21 de dez. de 2009

Respostas - missa em homenagem à Luiz Gonzaga


Fico muito feliz, quando alguma pergunta lançada neste blog é respondida através da participação de leitores. Como o caso recente, em que o amigo José Lobo do Nascimento me escreveu, primeiramente agradecendo o comentário que eu havia tecido sobre um video do Youtube, em que aparece um sanfoneiro de 8 baixos que eu desconhecia, chamado Miguel Januário da Costa. Na ocasião( 19 de Outubro de 2009), escrevi o seguinte comentário: " Sempre me encanta descobrir um novo mestre da sanfona. E o youtube, enquanto canal de difusão de vídeos que independe, em certo sentido, de uma relação de atravessadores culturais, permite uma circulação mais ampla do que aquela imposta pelas antigas leis de restrição mercadológica. A cada dia que passa, surgem nomes restritos a estreita circulação local, aonde trafegam anonimamente. Este senhor Miguel Januário da Costa é um destes.Neste video, postado por José Lobo Januário, fiquei a indagar sobre o lugar - aonde foi gravado, os sanfoneiros - há momentos em que há 3 ou 4 deles, e em que circunstância - foi um encontro casual ou programado? Quais são ( e de quem são) as músicas que tocam.Enquanto não tenho as respostas, vou curtindo este forró...
Passado algum tempo, recebo uma resposta por e-mail, no dia 13 de Dezembro, de José Lobo do Nascimento, agradecendo ao comentário, e me fornecendo algumas informações, que transcrevo a seguir: obrigado pelo seu comentário sobre Miguel Januário da Costa e seu irmão, Joaquim Januário da Costa. Este video foi gravado por mim, em 02 de Agosto de 2009, na Calçada da Igreja Matriz de Juazeiro do Norte. è que neste dia, é a celebração da missa em homenagem à Luiz Gonzaga, onde se encontram muitos sanfoneiros da região. Mesmo havendo missa em todas as cidades vizinhas, os sanfoneiros se dividem, para fazer presença em várias cidades, no mesmo dia e na mesma hora: 19 hs.
Nós fazemos parte da familia Januário. Miguel e Joaquim chamam a atenção de muita gente, pois eles, tanto Miguel como Joaquim, tocam a sanfona dos 8 aos 120 baixos. Ambos são roceiros, e residem no Sitio Poço, vizinho à Vila Valença, no Sitio de Caririaçu, no estado do Ceará.


Não sei se propositalmente ou por coincidência, a resposta do amigo José Lobo, veio no dia de aniversário de Gonzaga, 13 de dezembro, e a relação daquele vídeo, sendo o relato visual de uma grande homenagem anual ao rei do Baião, me conduz, mais uma vez, a refletir na influência deste mestre na música nordestina do século XX. Todos os sanfoneiros nordestinos que já conheci - dos 8 aos 80 baixos, são unânimes em afirmar a influência decisiva de Gonzaga na afirmação de suas carreiras.
A própria sanfona de 8 baixos - objeto central deste blog, provavelmente não teria a expressão que tem, caso a música "respeita Januário" não houvesse se tornado um grande êxito no ano de 1952, relatando ao grande público a importância deste instrumento na prática musical interiorana, constituindo a "raíz" da musicalidade Gonzagueana, e possibilitando que sanfoneiros de 8 baixos como Gerson Filho, Severino Januário (irmão de Gonzaga), Abdias, Zé Calixto, Geraldo Correia e Arlindo, entre tantos outros nomes, se profisiionalizassem.
Outra questão que me ocorre, é a dimensão humana deste mestre generoso - pois um rei que se torna rei empunhando uma sanfona, e não uma espada, possui, de fato, algo especial. Me refiro aos inúmeros relatos da generosidade espalhada pelos sertões de Gonzaga, auxiliando sanfoneiros menos remediados a obter instrumentos melhores, e ajudando - os, muitas vezes, a construir suas carreiras profissionais. Entre estes, sem dúvida o caso mais relatado é o de Dominguinhos, pobre menino de Garanhuns, que tocava nas feiras com os seus familiares, que Gonzaga assistiu em frente ao hotel onde estava hospedado, prometendo - lhe, quando fosse ao Rio de Janeiro, que lhe daria uma sanfona. Algum tempo depois, eis que Dominguinhos foi, com seu pai, à casa de Luiz Gonzaga, que cumpriu a promessa... A história restante é conhecida, e é apenas uma entre muitas.
Mas, voltando aos sanfoneiros Miguel e Joaquim, escreverei futuramente mais detalhes sobre estes sanfoneiros, pois o amigo José Lobo, que por sinal é um eximio violonista, me forneceu raras gravações, com as quais pude verificar toda a capacidade e talento musical destes dois irmãos...o que constata, que há muitos sanfoneiros que ficaram circunscritos à localidades interioranas, distantes dos estúdios de gravação das grandes cidades. Mas estes também são peças fundamentais para contar - se a história.

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