29 de jul. de 2009

A bordo do navio


Sem dúvida, na região sul, é onde temos a melhor documentação sobre a trajetória da sanfona de 8 baixos no Brasil. Na foto acima, extraída do sitehttp://www.projetoimigrantes.com.br/int.php?dest=fotos&pagina=2, podemos conferir a hipótese que parece cada vez mais acertada, sobre a relação intínseca entre a migração italiana e a história do acordeom em nosso país.

Há três músicos presentes nesta imagem: um homem tocando um instrumento não identificado, uma mulher tocando um tamburello basco e outra, tocando um organetto (sanfona). Pela fotografia, não podemos precisar detalhes sobre o instrumento (número de baixos de mão esquerda ou carreiras de mão direita). A data da fotografia remonta ao ano de 1880, o que nos leva a crer que estes músicos estão entre as primeiras levas de imigrantes. De fato, no Rio Grande do Sul, se concentraram não apenas praticantes do instrumento, bem como artesãos, através dos quais se originou uma prática e construção de grande expressividade.
Restam as perguntas: - quem serão estes músicos, de que região da Itália provinham e que músicas eles tocavam?

23 de jul. de 2009

Orquestra Sanfonica no Globo Comunidade


A Orquestra sanfônica de 8 baixos, organizado por sanfoneiros do municipio de Santa Cruz do Capibaribe, no Agreste de Pernambuco, é um dos principais indícios do refortalecimento da prática do fole de 8 baixos na região nordeste.
Agradecimentos à excelente postagem de Gilgeraldo.

14 de jul. de 2009

além - fronteiras

Durante a etapa inicial de minha pesquisa sobre a sanfona de 8 baixos e suas expressões no Brasil, minha primeira constatação foi a incomunicabilidade entre as três fronteiras geográficas que havia delimitado, isto é, as regiões sul, nordeste e sudeste/centro-oeste.
Estas não são apenas regiões geográficas, mas sobretudo, territórios imaginários carregadas de sentido identitário. Os movimentos migratórios nordeste-sudeste constituem um exemplo vivo deste processo.
Notei também, certo "etnocentrismo", que se torna em impecílio para que uns vejam aos outros, e do mesmo modo, uns vejam-se nos outros. "Trata-se de um jogo sutil de toma-lá-dá-cá, uma supervalorização de sua cultura, dentro de uma aparente anomia"(1992:33). Entre os sanfoneiros de cada região, tenho observado uma generalizada falta de interesse na música produzida pelo "outro", entendendo aqui o outro, como aquele que é oriundo de outra região.Em alguns casos, este desinteresse conduz à depreciaçao da arte alheia, não só por ser a arte do "outro", como por estar-se alheio à ela. Claro que falo em termos gerais, deixando escapar honrosas exceções.
Se, por um aspecto, este isolacionismo permitiu a construção de músicas com fronteiras tão nitidas quanto são as fronteiras geográficas, por outro lado, observo, em muitos momentos, uma tendência epigonal, (como a cobra que morde o próprio rabo), não permitindo o diálogo potencializado pela revolução digital e a fluidez que poderia se estabelecer no descentramento inter-regional, possibilitando novos lugares, não mais delimitados por uma identidade, mas por várias identidades.
Talvez esta reflexão seja possível (ou impossível) mediante o lugar em que ocupo neste diálogo. Um lugar do "sujeito pós-moderno", "não tendo uma idetidade fixa, essencial ou permanente"(2006:12), ocupando este lugar "itinerante"onde a identidade torna-se uma força móvel, menos biológica e mais histórica. Como estudioso da sanfona e sanfoneiro, minha natividade é itinerante: não sou gaúcho da fronteira, nem nordestino, quanto menos mineiro. Transito entre estas identidades que travam lutas acirradas entre si.
Meu olhar ( e minha escuta) transitam entre fronteiras, e como tal, proponho uma trégua, um entreouvir-se, como nova possibilidade estética. E retomo a pergunta formulada há quas três décadas atrás pelo compositor Tom Zé: - Com quantos quilos de medo se faz uma tradição?

Referências:

Hall, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro, DP & A Editora, 2006.
Settl, Klza. Questões reltivas à autoctonia nas culturas musicais indígenas da atualidade, consideradas no exemplo Mbyá-guarani. Revista Brasileira de música. Rio de Jneiro, 20:33-41, 1992-93.

ABORDAGEM PRÁTICA NA GAITA PONTO


Daltro Vieira da Rosa, musico catarinense, leciona há cerca de dez anos a arte da gaita-ponto de 8 baixos. Lembrando que "gaita" é a denominação sulista para o instrumento que nas regiões sudeste, cantro-oeste e nordeste, é mais conhecida como sanfona.
Nesta pequena lição introdutória, Daltro ensina a escala de dó maior na afinação diatônica brasileira (afinação natural).

7 de jul. de 2009

Hermeto Pascoal toca no Showlivre.com/2004


A música interpretada por Hermeto Pascoal e Aline Morena neste vídeo, é "Garrote". Hermeto, teve a sanfona de 8 baixos como primeiro instrumento, embora ao longo de sua carreira tenha a utilizado raramente. A partir de "Festa dos Deuses"(Selo Radio MEC, 1999), é que Hermeto retoma a "pé-de-bode", que está entre as suas mais profundas raízes musicais.
A afinação utilizada por Hermeto, é a "natural", afinação diatônica típica do Rio Grande do Sul.É uma adaptação da afinação diatônica italiana. Em Alagoas, onde nasce Hermeto, é uma afinação muito difundida, a julgar por outros sanfoneiros alagoanos como Gerson Filho, Edgar dos 8 baixos e Robertinho dos 8 baixos.
No caso de Hermeto, é interessante notar o uso que faz do instrumento. Ainda que se apoie na técnica tradicional, Hermeto consegue, como sempre parece conseguir, sair pela tangente, encontrar uma brecha para algum lugar desconhecido, ou melhor, pouco conhecido. Aqui, parece que este "lugar" é o compasso de sete tempos, incomum na cultura musical brasileira de modo geral.