'A composição de Dominguinhos é um desdobramento natural de uma musicalidade ampla, que se 
expressa o tempo todo na capacidade de improviso. Porque ele é um improvisador, que vai 
alinhavando todas as pequenas peças de Vitalino (célebre ceramista popular pernambucano), 
essas pequenas esculturas, pequenos trabalhos artesanais da cultura nordestina, um gosto 
imenso por aquela coisa fundamental da sanfona de oito baixos, do pé de bode, 
extraordinariamente atento a tudo aquilo que os sanfoneiros rudimentares do 
Nordeste fizeram.
'E vai adiante, alinhavando também as coisas ultradesenvolvidas, harmonicamente, 
melodicamente, em termos sinfônicos mesmo, de gente como Sivuca, Orlando Silveira,
 Chiquinho, acordeonistas extraordinários, que beberam em fontes sinfônicas, jazzísticas, 
etc. Dominguinhos é tudo isso, então a música dele, a composição dele quando se dá é 
em função disso. São resumos que ele faz desse arco imenso de música que passa por 
ele daquela forma tão espontânea, tão simples, tão natural, como se fosse fácil, mas não é.
 Para o músico comum aquilo só pode ser resultado de um empenho enorme, que a gente 
não percebe existir nele. Os xotes, as canções que ele fez com Nando Cordel, com Anastácia, 
são pequenos resumos que ele faz dessa ópera, que é o conjunto da musicalidade dele.
'Para essa nova composição, pedi que mandasse o título, o mote da letra, do tema. 
E ele me mandou Um Riacho, Um Caminho. Somos nós, dois imigrantes, egressos do 
mundo sertanejo, passando pelas cidades grandes, indo pro mundo. São percursos parecidos - 
ambos chegando agora à última fase da existência, à velhice. E ambos ligados em Luiz Gonzaga.'