30 de dez. de 2010

Gerson Filho - 1971

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Gerson Filho - o rei dos 8 baixos

Gerson Filho - o rei dos 8 baixos

Publicada: 20/07/2008
Texto: Alcino Alves Costa (O Caipira de Poço Redondo)
Fonte:Jornal da Cidade - Sergipe
O Nordeste e o Brasil tiveram em Gerson Filho um dos maiores representantes do gênero musical sertanejo/nordestino. Considerado o rei dos 8 baixos, Gerson Filho encantou os admiradores da boa música com o incomparável som de sua mágica sanfoninha vermelha.
O rei dos 8 baixos residiu por muitos anos em Aracaju ao lado de sua companheira e parceira de glórias artísticas Clemilda. Um dia o ciclo de sua vida chegou ao fim e ele viajou para o descampado azul do infinito, mudando-se para as terras do Além.

Na capital sergipana, todos os anos, durante o tão badalado “Forró Caju”, em um dos diversos palcos que leva o nome de consagrados artistas, dentre eles o do próprio Gerson Filho, desfilam o restinho do que ainda se tem daquilo que se convencionou em chamar “forró pé-de-serra”.

Neste São João de 2008 por lá passaram Dominguinhos, Genival Lacerda, Clemilda e outros defensores da sanfona, da zabumba, do pandeiro e do ganzá. No entanto, o que impera e comanda as ações, enchendo as praças, são as bandas, chamadas de “bandas de forró”. Novo costume musical que é acima de tudo um acinte ao baião de Luiz Gonzaga e Marinês, as cantigas de Jackson do Pandeiro e Clemilda, e ao som sublime e quase que divino das sanfonas de Pedro Sertanejo e de Gerson Filho.

Gerson Argolo Filho, era este o nome de registro do tão falado sanfoneiro das barrancas e águas do Baixo São Francisco. Com o passar dos anos, o mesmo veio a se tornar no mais famoso tocador de fole do Brasil. O seu lendário instrumento musical de 8 baixos espalhou os seus magistrais acordes por todos os quadrantes e paragens de nossa nação.

No arrebol de sua mocidade, Gerson Filho tinha como professor um velho puxador de fole que era considerado o melhor sanfoneiro de toda linha das margens do Velho Chico. O nome artístico deste mestre dos 8 baixos era Carola, tido e havido como uma sumidade no manejo de sua pequena concertina. O rapazinho Gerson Filho se abismava com a agilidade e destreza do afamado tocador quando ele dedilhava os botões de sua harmônica chamada carinhosamente de pé-de-bode.

O discípulo de Carola foi criando nome e fama. Era o mais requisitado para as festas e retretas das cidades de Penedo, nas Alagoas, e Propriá, em Sergipe. Nesta cidade sergipana, naqueles idos atravessando uma fase áurea, detentora que era de um desmedido apogeu, tinha em Gerson Filho e Agenor da Barra os seus grandes astros musicais.

Os sertanejos que se deslocavam dos confins do sertão, e ávidos de luxúrias, desembarcavam das canoas e corriam apressados para os cabarés famosos de Propriá. Lá estavam o Gato Preto e o XPTO, nos arredores do “Ferro de Engomar”, casas do pecado onde a caboclada procurava os carinhos, dengos e bailados das mundanas que se requebravam em seus vigorosos braços ao som inigualável da sanfona de Gerson.

Espírito forte e aventureiro, acreditando em seu enorme potencial, Gerson Filho arribou no mundo, correu atrás de seu destino e se foi para a fabulosa metrópole brasileira, o Rio de Janeiro. O seu talento foi reconhecido e admirado. O seu êxito e o seu sucesso foram espetaculares. O seu grande e maior sonho foi realizado. Gravou um disco na RCA Victor, então a maior e mais famosa gravadora do Brasil. E outros e mais outros discos foram gravados e todos com enorme prestígio e retumbante popularidade.

O sucesso e a glória vieram com rapidez impressionante. Em pouco tempo, todo Brasil se admirava com o som sublime e original daquela sanfona. Mas, Gerson Filho jamais esqueceu as suas origens e nem de seus queridos amigos que havia deixado em Propriá. Homem essencialmente generoso e grato, aproveitou a sua fama para prestigiar dois barzinhos de antigos e estimados companheiros dos tempos das “vacas magras”: eram eles o Bar do Patu e a Bodega do Bodega. Quais as homenagens que o parceiro de Clemilda fez para estes barzinhos? Criou e gravou dois extraordinários forrós e deu-lhes os nomes de “Forró do Patu” e “Na bodega do bodega”.

No auge da fama, Gerson e Clemilda, quando de suas visitas à então “Princesinha do São Francisco”, costumavam prazerosamente visitar o senhor Bodega e sua esposa dona Lalu, que residiam na Rua do Meio, na famosa cidade ribeirinha, para com eles prosear e saborear um gostoso e aromático café.

Os LPs foram surgindo. Os seus forrós eram tocados em todo Brasil. O povo se deslumbrava com “Forró do Patu”, “Na bodega do Bodega”, “Retalhos do nordeste”, “Caatingueira do sertão”, “Macaco é o tio Antônio”; ainda “Galinha arrepiada”, “Baião da Capelinha”, “O forró é meu”, “Segure o dedo”, “Diabinho maluco”, “Chora na rampa”, “Bom é esse”, “Lá vai fumaça”, “Levanta a poeira”, “Ingazeira do norte” e tantas outras maravilhas. Infelizmente, o Brasil da inversão de valores dos dias atuais nem sabe se existem tantos valores desse quilate em nossa cultura musical, e nem se eles saíram dos acordes de uma pequenina sanfona que tinha apenas 8 baixos.

Até o nosso Poço Redondo teve o privilégio de ser homenageado por este imensurável sanfoneiro com a gravação no LP “Ingazeira do norte”, e depois em CD, da comovente música-solo intitulada “Forró em Poço Redondo”.

Infelizmente, e isto é uma lastimosa realidade, os dias sem amor em que vivemos destruiu toda essa beleza cultural que glorificava as nossas tradições, e com este proceder foram assassinados todos os valores musicais do povo sertanejo.

É uma pena! Mas é verdade. 

22 de dez. de 2010

Sanfona de oito baixos é conhecida como matriz do forró

Bela matéria com Luizinho Calixto, exibida pela Rede Globo em 20/06/10 13h29


2º BLOCO
Sanfona de oito baixos é conhecida como matriz do forró

Não importa o tamanho, o instrumento é que dá o ritmo ao São João do Nordeste



Link:

http://pe360graus.globo.com/videos/diversao/musica/2010/06/20/VID,17103,2,225,VIDEOS,879-2O-BLOCO-SANFONA-BAIXOS-CONHECIDA-MATRIZ-FORRO.aspx

14 de dez. de 2010

A Guerra do Paraguai e a sanfona de 8 baixos - Leo Rugero

Talvez o ponto mais polêmico de meu ensaio "a sanfona de 8 baixos na música instrumental" seja a afirmação do acordeonista Guilherme Maravilhas, de que a sanfona teria sido introduzida na região nordeste no final da Guerra do Paraguai. Houve até mesmo quem colocasse em dúvida a autoridade do acordeonista carioca devido a essa afirmação. No entanto, o parecer de nosso prezado amigo não é de modo algum leviano e está amparado por antigos estudiosos da matéria. Camara Cascudo, em seu Dicionário do Folclore Brasileiro, afirma que: "No norte do Brasil a sanfona apareceu ao redor da Guerra com o Paraguai, entre 1865 e 1870".(CASCUDO, 1954, p.561). Porém, Cascudo não apresenta nenhuma explicação de como teria ocorrido este influxo. Podemos supor que os combatentes nordestinos teriam adquirido exemplares do instrumento possivelmente com os "brummer", cerca de mil e oitocentos soldados germánicos contratados pelo governo brasileiro em 1851 na Guerra do Prata. Os "brummer", eram conhecidos por tocar sanfona, e muitos se estabeleceram no Rio Grande do Sul. em período anterior à Guerra do Paraguai, tendo se tornado músicos, tocando em festas e batizados.Não é de todo inverossímel esta teoria de aproximação entre brummers e soldados nordestinos. Há uma quantidade enorme de sanfonas alemãs na Região nordeste, sobretudo da fábrica Koch - que deixa de existir em 1928, absorvida pela Hohner, cuja origem ainda é incerta.
 Estas sanfonas marcaram a geração de Januário, pai de Luiz Gonzaga e Seu Dideus, pai de Zé Calixto... O fato é que ainda há muito o que descobrir sobre a história da sanfona na região nordeste, mas a teoria da Guerra do Paraguai merece apreço e ao menos até o momento, não deve ser descartada.
Leo Rugero

10 de dez. de 2010

ZÉ HONÓRIO DOS OITO BAIXOS

Video postado pelo amigo Adão Sanfoneiro no Youtube. Zé Honório é um sanfoneiro paraibano radicado em São Paulo. Começou a carreira profissional no início da década de 1970, período em que teve uma intensa atividade discográfica. Atualmente é proprietário de um empório nordestino em São Paulo, onde habitualmente exerce sua arte.
Discografia:
LPs
O Maior 8 baixos do Brasil - RCA/1971
O Rei do Forró - RCA/1973
Balaio de Gatos no Forró - RCA/1974
Pirado no Forró - Japoti/1979(?)

CD
Saudades do Futuro - trilha sonora do filme franco-brasileiro. Vários artistas, contendo 2 solos de Zé Honório. Laterit, 2000


Não consegui localizar outros álbuns de Zé Honório. Se alguém souber de mais algum e quiser ajudar, desde já agradeço!



6 de dez. de 2010

Hermeto e Sivuca 1 - Solos



Hermeto Pascoal dando uma verdadeira aula de sanfona de 8 baixos. Nesta apresentação ele utiliza uma sanfona Hering em afinação natural G/C. Reparem a técnica de mão direita e o uso inventivo dos baixos da mão esquerda. Hermeto dialoga com a tradição mas conduz a sanfona por mares nunca dantes navegados sobretudo quanto ao aspecto rítmico.
video postado por bigfootpégrande no youtube.

O baião é carioca?

Segue abaixo um interessante artigo de Bráulio Tavares, 
publicado no site 
http://www.revistadehistoria.com.br/


01/08/2008
O baião é carioca
Criado por Luiz Gonzaga, o ritmo é uma síntese da música rural 
e da urbana, feito sob medida para o mercado da época
Braulio Tavares

Quando se fala em música brasileira, o nome de Luiz Gonzaga (1912-1989), o “Gonzagão”,
 é sempre lembrado como um símbolo da cultura dos nordestinos do interior. 
Seu forró fala da vida simples do homem rural do Nordeste: a plantação,
 o gado, os namoros, a seca freqüente, as chuvas difíceis e bem-vindas, 
as danças, as festas de São João. Todo o universo sertanejo está ali representado.

Gonzagão é tudo isso, sem dúvida. Mas no momento histórico em que surgiu, 

e dentro do que era a indústria fonográfica brasileira daquela época, a partir 
de 1940, sua arte ganha um sentido diferente. Não é uma música rural pura, 
autêntica, trazida intacta para ser mostrada na cidade grande. Pelo contrário: 
trata-se de uma expressão urbana, criada no Rio de Janeiro, fruto de um projeto cultural 
deliberado que surgiu antes mesmo da composição das canções propriamente ditas. 
Voltado para um Brasil que comprava discos em 78 rotações e escutava programas de rádio, 
o baião pode ser considerado a primeira manifestação pop da música nordestina.

O ritmo é um produto da criatividade e da ambição de dois jovens. Foi criado por Gonzaga

 em parceria com o advogado e poeta Humberto Teixeira (1915-1979), a quem ele procurou
 em seu escritório no Rio, em 1945. Nessa época, o sanfoneiro já era conhecido no competitivo
 meio musical carioca. Na cidade desde 1939, tinha se apresentado em muitos programas 
de calouros, participara de gravações com grupos musicais e cantores de destaque, tocava 
com freqüência nas principais casas noturnas do centro do Rio (como o Assírio) e já gravara 
vários discos como instrumentista. Era um talento que começava a se firmar, mas sentia 
que precisava criar algo com mais impacto.

Ao procurar Humberto Teixeira, Luiz Gonzaga tinha a idéia de criar um movimento musical 

com perfil tipicamente nordestino. Na sua mente, estavam bem claros os principais elementos
 para concretizar o projeto. O primeiro era a sanfona, que ele, exímio instrumentista, iria utilizar 
para compor e tocar canções baseadas nas melodias do fole de oito baixos – que animava os 
forrós sertanejos e era o instrumento tocado por seu pai, Januário. Gonzaga adotou a sanfona 
de 120 baixos. Comparada ao fole, era o que hoje chamaríamos de instrumento de última 
geração.  O contraste entre a moderna sanfona tocada por Gonzaga e o fole, instrumento 
do seu pai, é comentado com bom humor no xote “Respeita Januário”.  A canção descreve 
o retorno de Luiz ao sertão, depois de ficar famoso.  Nos versos de Humberto Teixeira, 
Januário ironiza a fama do filho e observa que seu fole tem apenas oito baixos, mas ele toca 
em todos os oito, ao passo que a sanfona de Luiz tem 120, mas ele só toca em dois...

O segundo elemento era a letra. Os forrós sertanejos eram animados quase sempre por música 

instrumental. As pessoas iam ali para dançar, não para escutar canções. Além dos temas i
nstrumentais, também surgia um grande número de canções folclóricas, que estavam na 
memória de todos e eram cantadas em conjunto, mas não havia ali – como havia no Rio de Janeiro
 – a figura do compositor profissional, compondo canções para um público específico. Gonzaga 
queria se tornar esse compositor, mas como não se considerava fluente na expressão poética, 
chamou Humberto Teixeira para levar a idéia adiante como seu parceiro.

Até o figurino foi escolhido a dedo. Gonzaga costumava se apresentar nos programas de calouros 

da época, que aconteciam nos auditórios das rádios. Munido de sua sanfona, vestia roupas comuns:
 calça e camisa, de vez em quando um terno. Ele percebeu que vestindo o gibão de couro e o chapéu 
enfeitado dos vaqueiros – que lembravam também a indumentária dos cangaceiros da época,
 muito difundida nas fotos dos jornais –, atrairia muito mais atenção pelo exótico da sua figura. 
E estava certo.

Por fim, cuidou de criar um ritmo próprio, de cadência hipnótica, envolvente, ao qual deu o nome

 de “baião”. O termo era usado pelos cantadores de viola do Nordeste para designar o ponteio que
 executavam durante os seus improvisos e desafios. Para a marcação desse ritmo, Gonzaga fixou
 o formato do grupo musical que se consagrou a partir daí: sanfona, zabumba e triângulo.
 Ele deve ter sido o primeiro a introduzir na música profissional o triângulo de metal, percutido 
com uma vareta também de metal, muito usado nas ruas do Nordeste pelos vendedores de
 “cavaco chinês”, uma espécie de biscoito popular em forma de cone, muito fino e quebradiço.

O baião tornou-se, assim, uma mescla de elementos rurais e urbanos, tradicionais e contemporâneos. 

Não era uma forma de música nordestina que ao chegar ao Rio de Janeiro foi transportada
 integralmente para os discos e os shows. Foi uma criação de nordestinos já radicados havia
 muitos anos no ambiente carioca. Nordestinos aculturados lutando pela sobrevivência profissional, 
mas já integrados ao meio. Humberto Teixeira, por exemplo, morava no Rio desde os 15 anos.

Tanto é assim que as canções clássicas de Luiz Gonzaga com Humberto Teixeira (e mais tarde 

com seu outro grande parceiro, Zé Dantas, 1921-1962) se referem todas ao sertão como um 
lugar distante. São canções de migrante, nas quais a terra natal é indicada por um “lá”, 
distante e saudoso.
 “Lá no meu pé de serra /deixei ficar meu coração” (“No meu pé de serra”). 
“Hoje longe muitas léguas / na mais triste solidão...” (“Asa Branca”). 
“Ai ai, eu vou-me embora, vou voltar pro meu sertão”
 (“A volta da Asa Branca”). “Quando eu vim do sertão, seu moço, do meu Bodocó... / 
A maleta era um saco / e o cadeado era um nó...” (“Pau-de-Arara”).
 “Foi aí que eu vim-me embora, carregando a minha dor.../E hoje eu mando um abraço pra ti, pequenina...”  (“Paraíba”). 
E muitas e muitas outras. Canções feitas na metrópole para celebrar essa terra 
do sonho distante.

O baião é nordestino em seu espírito e essência, mas é carioca de nascimento. 

Com as 
características que tem, só poderia ter surgido no Rio de Janeiro, que nos anos 1940, 
ainda
 capital da República, rivalizava com São Paulo como grande pólo de atração de 
migrantes em busca de oportunidades. Anos de experiência como músico de cabarés da Lapa
 e de bares da “zona” do Mangue deram a Luiz Gonzaga uma informação musical variada, inacessível aos sanfoneiros de pé de serra, para não falar no seu aprendizado de diferentes ritmos e 
recursos técnicos, 
durante os nove anos em que viajou pelo Brasil servindo no Exército. Ensinaram-lhe 
também a conhecer a mentalidade e as expectativas do público. Mostraram-lhe como 
poderia marcar presença num mundo competitivo, em que as oportunidades 
de aparecer – como no caso dos programas de calouros – eram escassas e ferozmente 
disputadas. Seu baião, expressão mais autêntica da música nordestina, foi inventado no Rio
 “para carioca ver”. O que não diminui em nada, é claro, sua riqueza como música e sua 
verdade como expressão social.

A novidade obteve sucesso imediato no rádio, que se refletiu na quantidade (e na vendagem) 

dos discos lançados por Gonzaga. A primeira música de grande impacto foi a gravação 
do grupo Quatro Ases e um Coringa para “Baião”, em 1946. Era a canção que apresentava 
ao público o
 novo ritmo:  “Eu vou mostrar pra vocês como se dança o baião/e quem quiser aprender 
é favor prestar atenção...”. No ano seguinte saiu “Asa Branca”, que acabou se tornando a canção-símbolo da 
obra de Gonzaga e da própria música nordestina. É uma canção típica de migrante saudoso:
 “Quando o verde dos teus olhos / se espalhar na plantação / eu te asseguro, não chore não, viu? 
/ Que eu voltarei, viu, meu coração...”. Os sucessos vieram em fila: em 1947, “No meu pé de serra”; em 1949, “Juazeiro” e “Mangaratiba”; em 1950, “Paraíba”, “Assum Preto”, “Que nem jiló”, 
“Baião de Dois”, “Forró de Mané Vito” e “Cintura fina”; em 1951, “Boiadeiro” e “Estrada do Canindé”; em 1952, “Acauã”.

Entre 1945 e 1955, no Brasil inteiro se cantava o baião. Carmélia Alves, Isaura Garcia, 

Ivon Curi, Marlene, Emilinha Borba, Carmen Miranda, Ademilde Fonseca, Dircinha Batista – 
os principais intérpretes da época aderiram ao novo ritmo, intensamente divulgado pelo rádio e 
também pelo cinema brasileiro, que vivia um momento de ascensão com as comédias musicais, ou “chanchadas”.

A trajetória do baião foi desde os sítios humildes do interior de Pernambuco até as rádios cariocas 

e as paradas de sucesso estrangeiras. O novo ritmo foi assimilado também por compositores 
sem origem nordestina, mas com musicalidade bastante para sentir-lhe as possibilidades 
rítmicas e melódicas.  
Surgiram canções como “Delicado”, de Valdir Azevedo (1951), e “Baião Caçula”, 
de Mário Gennari Filho (1952), e na Itália, o “Baião de Anna” (também conhecida como 
“El Negro Zumbón”), de Roman Vatro e Franco Giordano, cantado por Flo Sandons e dublada por Silvana Mangano no filme “Anna” (1951). 
Essa trajetória reproduz um fenômeno muito freqüente na música feita no Brasil. É o encontro 
da criatividade do mundo rural com a produtividade do mundo urbano. Até meados do século XX, 
a população brasileira era mais rural do que urbana; desde então, essa proporção se inverteu.
 A predominância do urbano se deu em grande parte devido à migração maciça de pessoas que
 saem do interior para viver nas cidades. O resultado é que, mesmo no meio urbano, a cultura 
de boa parte de seus habitantes tem origens rurais. Isto pode ser visto com clareza na proporção 
de nordestinos que habitam a periferia de São Paulo e os morros do Rio de Janeiro.

A música viaja junto com os migrantes. Em seu lugar de origem, cantar e tocar são atividades de 

lazer, e a remuneração do músico é precária. Na cidade, esses artistas entram em contato com o 
mercado. O disco e o rádio – hoje em dia, também a televisão e os espaços para shows – 
transforma sua música, que antes era feita por mera inspiração e para mera diversão, em música 
profissional. 
A Música Popular Brasileira vira Música Fonográfica Brasileira.

Foi o que ocorreu com o baião. Seus criadores receberam um banho de cultura urbana e tiveram 

o talento e a ousadia de intervir criativamente em tudo com que se deparavam.  Foram 
Luiz Gonzaga 
e Zé Dantas, possivelmente, os primeiros a usar o nome “Coca-Cola” numa letra de música popular
 brasileira, em “Siri jogando bola”, de 1956 (“Vi um jumento tomar vinte Coca-Cola / 
ficar cheio que 
nem bola / e dar um arroto de lascar – lá no mar...”). Um dos muitos motivos de orgulho dos
 nordestinos
 com relação ao baião e à carreira de Luiz Gonzaga é que eles provam que o homem da 
terra pode“vencer na cidade grande”.  Gonzaga é, aos olhos da gente mais simples, um sertanejo 
cujo talentointerferiu na vida da capital do país, modificou-lhe os hábitos, introduziu uma nova forma
 de cantar e de dançar, e, principalmente, chamou a atenção de todo o país para a cultura do sertão.

As circunstâncias da invenção e do sucesso do baião constituíram um modelo que seria repetido, com 

variantes, até hoje. Repetiu-se com Jackson do Pandeiro e sua fusão entre o coco paraibano e o samba 
carioca na década de 1950, tão bem-sucedida que muitos sambistas ainda hoje o consideram um dos 
seus. Repetiu-se com o sucesso dos nordestinos de classe média e formação universitária dos anos 1970: 
Alceu Valença, Fagner, Zé Ramalho, Geraldo Azevedo, Ednardo, Belchior... Voltou a ocorrer mais r
ecentemente com o fenômeno do Mangue Beat, criado em Recife por Chico Science e Fred Zeroquatro 
nos anos 1990, desta vez um movimento criado a partir do próprio Nordeste, mas com repercussão nacional.

Atualmente, abrem-se inúmeras possibilidades criativas para essa música. Ocorrem fusões dos 

ritmos rurais com a eletrônica e a informática. Juntam-se, mais uma vez, a matéria-prima da 
cultura rural e a tecnologia transformadora das grandes cidades. Pode não parecer, mas é a mesma 
receita posta em prática há mais de meio século por um sanfoneiro pernambucano e um advogado 
cearense, aos trinta e poucos anos de idade. Braulio Tavares é escritor, compositor e autor do 
livro Contando histórias em versos: poesia e romanceiro popular no Brasil (Editora 34, 2005).
Saiba Mais - Bibliografia:

ÂNGELO, Assis. Dicionário Gonzagueano de A a Z. São Paulo: edição do autor, 2006.

DREYFUS, Dominique. “A vida do viajante: a saga de Luiz Gonzaga”. São Paulo: Editora 34, 1996.

SEVERIANO, Jairo e MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo – 85 anos de músicas brasileiras (2 vols.) São Paulo: Editora 34, 1997.

TELES, José. Do frevo ao manguebeat. São Paulo: Editora 34, 2000.
Saiba Mais - Gravações:
GONZAGA, Luiz. “Luiz Gonzaga: 50 Anos de Chão”. Coletânea com três CDs lançada em 1996,  extraída da edição original, em caixa de cinco LPs, de 1988. (Sony/BMG).
Saiba Mais - Site:
http://www.luizluagonzaga.com.br/