Em Exu, oficina passa tradição da sanfona de oito baixos
Instrumento ficou famoso nas mãos de Januário, pai de Gonzagão.
Luizinho Calixto desenvolveu uma didática para facilitar o ensino.
"Quem sabe tocar sanfona de oito baixos hoje está ficando velho, morrendo. É preciso renovar, buscar novos talentos, para a tradição não morrer". Essa é preocupação do sanfoneiro paraibano Luizinho Calixto, que há oito anos inicia crianças no instrumento, famoso nas mãos de Januário, pai de Luiz Gonzaga. O músico desenvolveu uma didática para facilitar o ensino, que carece de professores em todo o Nordeste. Nesta sexta-feira (14), alunos de uma oficina em Exu, no Sertão pernambucano, receberam o certificado de que aprederam os primeiros passos na "pé de bode".
A sanfona de oito baixos é dividida em baixo, fole e teclado com 21 teclas. Cada tecla faz um som diferente quando o fole abre e fecha, ou seja, são 42 sons ao todo. As teclas do baixo têm que ser tocadas na hora certa, em harmonia com as do teclado. "A sanfona de oito baixos veio da Europa com uma afinação diatônica. Quando chegou aqui no Nordeste, alguém transportou, não se sabe o porquê nem baseado em quê, a afinação para o dó-ré, que é única no mundo todo", explicou Luizinho Calixto.
Esta falta de informação sobre a sanfona de oito baixos foi um desafio que o músico teve que vencer para poder elaborar a oficina de iniciação. "Diziam que só tocava quem tinha dom ou um parente na família para ensinar. Mas criei um sistema onde cada tecla é um número. Se a tecla está pintada de vermelho, é para fechar. De azul, para abrir. Assim, os meninos olham e pronto, já saem praticando sozinhos", disse. O método foi batizado de tablatura.
Foi assim que, em poucos dias, a estudante Ana Flávia Gomes, 15 anos, garante que aprendeu várias músicas na oficina. Ela já tocava violão. Adora música sertaneja. Gustavo Lima é o ídolo dela. "Mas eu gosto de forró também, e queria aprender sanfona de oito baixos. Achei fácil. O complicado só é saber a hora de apertar os botões do baixo. Hoje em dia, as meninas não se interessam por sanfona. Só querem ir para as festas namorar, dançar", falou.
Assim como Ana Flávia, a professora de biologia Ana Vartan, de 24 anos, é apaixonada pela cultura popular e, desde pequena, é fã da música de Luiz Gonzaga. Ela diz que sempre quis aprender a tocar sanfona de oito baixos, mas não tinha quem ensinasse. "Aqui, em Exu, não tem professor para essa sanfona, só para 80 ou 120 baixos, parece que falta esse interesse mesmo, do governo, do povo que tem moleza de participar de eventos assim. Ano passado perdi a oficina, mas dessa vez não marquei bobeira. E é bom que tenham crianças, que é a melhor fase de aprender", disse a jovem, que afirma não tirar o chapéu de couro da cabeça. "Uso a indumentária até na formatura", completou.
Criança não faltava nas aulas de Calixto. Os amigos Marcos Filho, 8 anos, e Antônio Santos, 11 anos, eram dos mais animados. Eles já participam do projeto Asa Branca, onde aprenderam a tocar sanfona de 80 baixos, em dois dias da semana. "Eu iria mais dias, gosto de forró, sei tocar "Asa Branca", "Sabiá". Meus amigos ouvem rock, Mamonas Assassinas, Michael Jackson. Eles riem que eu escuto Luiz Gonzaga, Gonzaguinha, Waldonys, mas eles que têm que rir dessas músicas deles", comentou Marcos.
O agricultor Pedro Sampaio, 56 anos, era o único adulto da turma, mas via com bons olhos o grupo ser formado por gente mais nova. "Eu aprendi sanfona de 80 baixos sozinho em casa, vendo meu pai tocando, que aprendeu com Januário, pai de Gonzaga, e me apaixonei. Só agora deu para aprender a de oito baixos, porque naquela época era muito difícil ter uma dessa. E acho lindo menino assim apaixonado também, pela sanfoninha e o som dela", disse.
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