"Encontro de sanfoneiros do Recife", é, como o próprio título indica, uma espécie de who is who da sanfona recifense. O livro, escrito pelo pesquisador Edivaldo Arlégo, reúne 53 sanfoneiros, com uma foto em preto-e-branco e uma pequena biografia de cada um dos artistas enfocados. Consiste em uma obra de grande utilidade aos pesquisadores e apreciadores da arte deste instrumento. Partindo do pressuposto que o livro de Arlégo seja um apanhado fiel do panorama da sanfona na capital do frevo, reitera a preocupação da historiadora Leda Dias e do jornalista Anselmo Alves, em torno da ausência de tocadores de 8 baixos, que poderia gradualmente conduzir este nobre instrumento à extinção.
Senão vejamos: entre os 53 sanfoneiros resenhados por Arlégo, 49 se dedicam ao acordeom de 120 baixos, enquanto somente 4 (!) são assumidamente sanfoneiros de 8 baixos. Destes 4, tiremos 1, pois Chiquinha Gonzaga, irmã caçula de Luiz Gonzaga, infelizmente está impossibilitada de tocar devido à problemas de saúde. Restam três: Arlindo dos 8 baixos, Severino dos 8 baixos e Evandro dos 8 baixos.
Porém, a continuidade de uma tradição musical pode vigorar por maneiras insuspeitáveis. Em minha breve estada em Recife, em agosto último, tive a oportunidade de assistir à dois exímios acordeonistas de 120 baixos: Cicinho do Acordeon e Marcelo de Feira Nova. Tanto na prática musical de um, como de outro, as sementes do fole de 8 baixos estão presentes, trazendo não apenas o vasto repertório, bem como técnicas e efeitos que afloraram na obra de mestres da sanfona de 8 baixos, como Gerson Filho, Abdias e Zé Calixto. Ainda que podemos considerar que o instrumento esteja em desuso, a musicalidade imanente, que foi registrada em fonogramas ao longo de seis décadas, é uma verdadeira escola do forró instrumental e servirá de referência dos futuros instrumentistas, seja quais foram os seus instrumentos - um acordeom de 120 baixos, uma guitarra, um saxofone...
Referência: Arlégo, Edivaldo. Encontro de sanfoneiros de Recife. Edições Edificantes, Recife:2004.