30 de ago. de 2011

Enock Lima

Enock Lima - Memória viva do Forró  por Leo Rugero

O mundo artístico da sanfona de oito baixos não é composto apenas por sanfoneiros. Claro que eles são as  estrelas! No entanto, estão inseridos em uma ampla rede composta por percussionistas, técnicos de estúdio, proprietários de forrós, jornalistas, produtores e até mesmo pesquisadores, como é o meu caso. Entre estas pessoas, algumas se destacam devido a representatividade que desempenham ou desempenharam neste ambiente. É o caso do pernambucano Enock Lima. 
Difícil definir a atuação de Enock. Fundamentalmente, ele é um zabumbeiro, embora também toque de forma apreciável outros instrumentos de percussão. Porém, sua atividade no mundo do forró se estende a outros domínios. 
Nascido em Recife, no dia 16 de dezembro de 1948, como diz o próprio Enck, "Nasci no Barro e fui criado no Totó", se referindo ao bairro onde passou a infância.
O envolvimento de Enock com a música começa no âmbito familiar. Seus pais, José Ferreira Lima (1897 - 1986) e Josefa Maria Lima eram amigos pessoais de Luiz Gonzaga. Enock se recorda de quando ainda era  menino, e o Rei do Baião aparecia para passar a tarde com seus pais. Embora seu pai fosse extremamente religioso, abria uma exceção na companhia de Gonzaga, e assim que o Rei do Baião chegava, pedia para o menino Enock atravessar a rua e ir até a venda da esquina comprar duas cervejas para Gonzagão. Como lembra Enock, "ele era de casa e nós nem sabiamos da importância dele". A amizade entre seu pai e Gonzagão foi selada por uma parceria, a marcha "Vou pra roça", que talvez tenha ficado um pouco eclipsada por ser o lado A do disco de 78 rotações, que trazia no lado B, nada mais nada menos do que "Asa Branca".
 Alguns anos mais tarde, o jovem Enock  ficava, segundo suas próprias palavras, "bisbilhotando" os sanfoneiros de oito baixos, sobretudo no bairro de Jaboatão dos Guararapes e Vitória de Santo Antão. Esta aproximação acontece no início de sua adolescência: "Eu era garoto, tinha os meus treze, quatorze anos".
Sua primeira oportunidade profissional acontece por volta desta época, através de J. Austragésilo, que admite o jovem  na Rádio Clube de Recife, para trabalhar no cargo de sonoplasta. Foi nesta emissora que Enock conheceu Martins do Pandeiro e Martins da Sanfona (mais tarde conhecido artisticamente como Tony Martins). Enock se tornaria o "regra três" do conjunto "Os Cabras do Baião". Para quem não sabe, chamava-se "regra três" ao músico substituto que eventualmente assumia o lugar de algum músico efetivo que, por algum motivo, não podia se apresentar. Nesta mesma época, Enock conheceu um jovem e talentoso sanfoneiro por nome de Heleno, que se tornaria muito conhecido através do nome artístico de "Truvinca", dado por Zé Calixto.
Em seguida,  começa a trabalhar no grupo "Pereirinha e seus capangas". Dissolvido o grupo, Enock acompanha o fluxo migratório para o Sudeste, fixando-se no Rio de Janeiro por volta de 1965. 
No Rio, surge a oportunidade de trabalhar com Luiz Gonzaga como "divulgador particular", substituindo José Sabino, que havia se afastado do cargo. Deste modo, Enock assume este emprego na RCA-Victor.  Segundo Enock, na época ainda não havia sido institucionalizado o jabá, pecúnia desembolsada pelas gravadoras e/ ou produtores para as emissoras de rádio. No entanto, o estreito contato entre Enock e Gonzaga, fez com que o trabalho de divulgador abarcasse outros domínios. Enock se tornaria uma espécie de "faz-tudo" do Rei do Baião: "secretário, atendedor de telefone, carregador de estojo de acordeom, motorista". 
Através de Gonzaga, Enock conheceu Severino Januário, com quem tocou e gravou na decada de 1970.
Depois de 12 anos, Enock foi despedido por Helena, esposa de Gonzaga, devido a um envolvimento com uma empregada doméstica da casa. A história que hoje é lembrada com certo humor por Enock, custou-lhe o trabalho ao lado do rei do baião. Arroubos da juventude...
Outro passo importante no percurso de Enock foi o trabalho ao lado do lendário sanfoneiro paraibano Abdias. Ao lado deste grande músico, Enock permaneceu até 1991, quando Abdias foi vítima de um enfarte. As lembranças com o "mago da sanfona" são marcantes, revelando uma grande amizade entre os dois músicos. "É um maestro com uma batuta na mão do estilo nordestino". Enock também chama a atenção para a inventividade de Abdias, que se reflete não apenas nas músicas como nas capas dos discos.
Também trabalhou como ritmista em orquestras de baile e  cantores populares. Neste tempo, fez de tudo um pouco, até letras de jingles para políticos.
De alguns anos para cá, se dividiu entre muitas atividades, entre as quais, o programa "FoleViola", que rompe as auroras pela rádio MEC, apresentado por Adelzon Alves, do qual Enock é colaborador e ex-assistente.

Continua transitando pelo mundo do forró entre Rio de Janeiro e Recife. Quem o conhece, sabe que ele é um excelente contador de histórias, memória viva do forró, sobretudo no que tange a sanfona de oito baixos. E também guarda, além das recordações, muitas músicas inéditas, como um forró composto em homenagem ao sanfoneiro Truvinca.



Enoque, seu filho Jerry e Abdias. Foto tirada na casa de Enock, em 1987 (Arquivo pessoal de Enock Lima)


Enock e Leo Rugero em Recife, 2009 - Acervo Pessoal de Leo Rugero


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