Gerson Filho - o rei dos 8 baixos
Publicada: 20/07/2008
Texto: Alcino Alves Costa (O Caipira de Poço Redondo)Fonte:Jornal da Cidade - Sergipe
O Nordeste e o Brasil tiveram em Gerson Filho um dos maiores representantes do gênero musical sertanejo/nordestino. Considerado o rei dos 8 baixos, Gerson Filho encantou os admiradores da boa música com o incomparável som de sua mágica sanfoninha vermelha.
O rei dos 8 baixos residiu por muitos anos em Aracaju ao lado de sua companheira e parceira de glórias artísticas Clemilda. Um dia o ciclo de sua vida chegou ao fim e ele viajou para o descampado azul do infinito, mudando-se para as terras do Além.
Na capital sergipana, todos os anos, durante o tão badalado “Forró Caju”, em um dos diversos palcos que leva o nome de consagrados artistas, dentre eles o do próprio Gerson Filho, desfilam o restinho do que ainda se tem daquilo que se convencionou em chamar “forró pé-de-serra”.
Neste São João de 2008 por lá passaram Dominguinhos, Genival Lacerda, Clemilda e outros defensores da sanfona, da zabumba, do pandeiro e do ganzá. No entanto, o que impera e comanda as ações, enchendo as praças, são as bandas, chamadas de “bandas de forró”. Novo costume musical que é acima de tudo um acinte ao baião de Luiz Gonzaga e Marinês, as cantigas de Jackson do Pandeiro e Clemilda, e ao som sublime e quase que divino das sanfonas de Pedro Sertanejo e de Gerson Filho.
Gerson Argolo Filho, era este o nome de registro do tão falado sanfoneiro das barrancas e águas do Baixo São Francisco. Com o passar dos anos, o mesmo veio a se tornar no mais famoso tocador de fole do Brasil. O seu lendário instrumento musical de 8 baixos espalhou os seus magistrais acordes por todos os quadrantes e paragens de nossa nação.
No arrebol de sua mocidade, Gerson Filho tinha como professor um velho puxador de fole que era considerado o melhor sanfoneiro de toda linha das margens do Velho Chico. O nome artístico deste mestre dos 8 baixos era Carola, tido e havido como uma sumidade no manejo de sua pequena concertina. O rapazinho Gerson Filho se abismava com a agilidade e destreza do afamado tocador quando ele dedilhava os botões de sua harmônica chamada carinhosamente de pé-de-bode.
O discípulo de Carola foi criando nome e fama. Era o mais requisitado para as festas e retretas das cidades de Penedo, nas Alagoas, e Propriá, em Sergipe. Nesta cidade sergipana, naqueles idos atravessando uma fase áurea, detentora que era de um desmedido apogeu, tinha em Gerson Filho e Agenor da Barra os seus grandes astros musicais.
Os sertanejos que se deslocavam dos confins do sertão, e ávidos de luxúrias, desembarcavam das canoas e corriam apressados para os cabarés famosos de Propriá. Lá estavam o Gato Preto e o XPTO, nos arredores do “Ferro de Engomar”, casas do pecado onde a caboclada procurava os carinhos, dengos e bailados das mundanas que se requebravam em seus vigorosos braços ao som inigualável da sanfona de Gerson.
Espírito forte e aventureiro, acreditando em seu enorme potencial, Gerson Filho arribou no mundo, correu atrás de seu destino e se foi para a fabulosa metrópole brasileira, o Rio de Janeiro. O seu talento foi reconhecido e admirado. O seu êxito e o seu sucesso foram espetaculares. O seu grande e maior sonho foi realizado. Gravou um disco na RCA Victor, então a maior e mais famosa gravadora do Brasil. E outros e mais outros discos foram gravados e todos com enorme prestígio e retumbante popularidade.
O sucesso e a glória vieram com rapidez impressionante. Em pouco tempo, todo Brasil se admirava com o som sublime e original daquela sanfona. Mas, Gerson Filho jamais esqueceu as suas origens e nem de seus queridos amigos que havia deixado em Propriá. Homem essencialmente generoso e grato, aproveitou a sua fama para prestigiar dois barzinhos de antigos e estimados companheiros dos tempos das “vacas magras”: eram eles o Bar do Patu e a Bodega do Bodega. Quais as homenagens que o parceiro de Clemilda fez para estes barzinhos? Criou e gravou dois extraordinários forrós e deu-lhes os nomes de “Forró do Patu” e “Na bodega do bodega”.
No auge da fama, Gerson e Clemilda, quando de suas visitas à então “Princesinha do São Francisco”, costumavam prazerosamente visitar o senhor Bodega e sua esposa dona Lalu, que residiam na Rua do Meio, na famosa cidade ribeirinha, para com eles prosear e saborear um gostoso e aromático café.
Os LPs foram surgindo. Os seus forrós eram tocados em todo Brasil. O povo se deslumbrava com “Forró do Patu”, “Na bodega do Bodega”, “Retalhos do nordeste”, “Caatingueira do sertão”, “Macaco é o tio Antônio”; ainda “Galinha arrepiada”, “Baião da Capelinha”, “O forró é meu”, “Segure o dedo”, “Diabinho maluco”, “Chora na rampa”, “Bom é esse”, “Lá vai fumaça”, “Levanta a poeira”, “Ingazeira do norte” e tantas outras maravilhas. Infelizmente, o Brasil da inversão de valores dos dias atuais nem sabe se existem tantos valores desse quilate em nossa cultura musical, e nem se eles saíram dos acordes de uma pequenina sanfona que tinha apenas 8 baixos.
Até o nosso Poço Redondo teve o privilégio de ser homenageado por este imensurável sanfoneiro com a gravação no LP “Ingazeira do norte”, e depois em CD, da comovente música-solo intitulada “Forró em Poço Redondo”.
Infelizmente, e isto é uma lastimosa realidade, os dias sem amor em que vivemos destruiu toda essa beleza cultural que glorificava as nossas tradições, e com este proceder foram assassinados todos os valores musicais do povo sertanejo.
É uma pena! Mas é verdade.
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