27 de out. de 2009

Anselmo Alves e Leda Dias

Leda Dias, Leo Rugero, Marcelo de Feira Nova e Anselmo Alves



Ontem à noite, ainda sob o impacto da perda de meu pai, voltei do cemitério do Caju, setor de cremação, e, ao chegar em casa, resolvemos vivenciar esta "triste partida", com porções generosas de pasteizinhos "Baurú"- do tipo que ele gostava - regados com cerveja Skol, que era uma de suas marcas prediletas. Lembramos então, eu e Cláudia, de rever três vídeos que eu havia recebido de Anselmo Alves, no dia 14 de Agosto, último dia de minha estada em Recife. Ei-los: Arlindo dos 8 baixos - o mestre do Beberibe, Luiz Gonzaga - A luz dos sertões e Especial Luiz Gonzaga 95 anos. Antes de comentar a respeito dos filmes, devo prestar meu agradecimento e homenagem ao jornalista Anselmo Alves e à historiadora Leda Dias, pelo incansável trabalho de dedicação à memória da sanfona de 8 baixos, esta rica tradição da música nordestina, que jamais, em seu percurso histórico, galgou o devido apoio institucional e, quiçá, midiático. E a árdua tarefa desempenhada por estes dois "mandarins miraculosos" não concerne somente à conservação, mas sobretudo o estímulo à renovação desta arte, através de projetos como o curso de sanfona de 8 baixos ministrado por Luizinho Calixto no Memorial Luiz Gonzaga, além da produção de shows, vídeos e mais do que tudo, um "carisma", que tem sido o sustentáculo do forró instrumental em Recife, que atualmente talvez seja o principal pólo irradiador desta magnífica prática musical.



Luiz Gonzaga sempre será o ícone de afirmação do homem nordestino. Todos os personagens do sertão pairam nas letras de suas parcerias com Humberto Teixeira, Zé Dantas, Onildo Almeida...mas também se presenciam na própria atmosfera produzida pelo efeito instrumental das melodias que trouxe consigo, cultivando-as e depurando-as, criando uma nova instância na música popular brasileira - o baião, e, posteriormente, o forró. Tanto o especial 95 anos como Luiz Gonzaga - a saga dos sertões, conseguem, com esmero, radiografar Luiz Gonzaga, no âmago, mostrando este "matulão" gonzagueano que reflete em sua vasta produção, e por ela é refletido.Estão presentes neste "matulão", as ladainhas em latim, os aboios de vaqueiros, a dança guerreira do cangaço, a canção de exílio diante do êxodo da seca, enfim, o cerne do que constituiria a "alma nordestina". Também há um caráter historicista nos dois filmes, pontuando as atividades musicais de Luiz Gonzaga com o entorno sócio-politico, de tal modo que se estende sua influência a partir da afirmação profissional de seu trabalho. Indispensáveis, estes dois curta-metragens, a todos aqueles que o admiram. Imagens de arquivo se misturam à depoimentos e participações de sanfoneiros ilustres. E, melhor de tudo, com direito à canjas dos mesmos. A sanfona de 8 baixos, que pontua a tradição musical da família Gonzaga - o pai Januário e seus filhos, Luiz, José, Severino e Chiquinha, matrizas fundantes desta tradição musical, é lembrada pela participação especial de mestres vivos, mantenedores e renovadores deste importante vértice: Zé Calixto, Luizinho Calixto, Truvinca e Arlindo.


Aliás, Arlindo dos 8 baixos - o mestre do Beberibe, marca o reconhecimento de Arlindo como um dos ícones da sanfona de 8 baixos. Diante da ausência de uma videografia dedicada à sanfona de 8 baixos, este filme constitui um oásis. A trajetória de Arlindo é narrada, através do próprio, numa viagem de retorno à suas raízes na zona da mata sul pernambucana, até chegar ao "forró do Arlindo", que já é uma atração turística de Recife. No filme, há passagens surpreendentes, como a paixão de Arlindo pelo cinema e consequentemente, pelas canções que pontuam os clássicos do cinema americano, como Over the rainbow. E novamente, somos conduzidas à onipresença de Gonzaga, quando se descreve como o Rei do Baião apadrinhou a carreira artística de Arlindo e criou a alcunha "o mestre do Beberibe" que serviu de título ao primeiro álbum gravado por Arlindo em um grande selo fonográfico. Um filme que merece ser exibido mais vezes em nossas cinematecas...


Mais uma vez, meus agradecimentos sinceros aos novos amigos Anselmo Alves e Leda Dias, pelas belas imagens e sons com os quais me presentearam.

Um comentário:

  1. Fiquei encantado, ontem à noite, com a cantora Leda Dias, entrevistada num programa da JC, que se reportava ao disco "Canções Brasileiras", recém lançado. Esta cantora tem todas as qualidades que se espera de uma grande intérprete:
    escolha de um bom repertório, voz bonita, agradável... Pena que eu não seja uma produtora de discos. Onde estão os "caça-talentos"? Se ela cantasse num prograa de Roberto Carlos, Gilbert Gil ou Caetano Veloso, ninguém segurava o seu sucesso. E é isto o que desejo para ela. Parabéns!!!!!

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