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7 de jun. de 2012

Folia de Reis Estrela D'Alva do Oriente (texto de Leo Rugero)



Há alguns anos atrás, ganhei de presente a coleção de discos compactos produzidos pela FUNARTE  e pelo Ministério de Educação e Cultura, através da Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro. Entre a remessa de discos, houve um, em especial, que me despertou a atenção. Se tratava de um compacto de Folia de Reis, gravado na área metropolitana do Rio de Janeiro, gravada em 1971. A começar pela capa, fiquei surpreso com as violas meia-regra e sem ressalto empunhada pelos dois foliões a frente da folia (mestre e contra-mestre), pois, na época (meados da década de 2000) eu estava envolvido com a pesquisa sobre a viola no estado do Rio de Janeiro - o que parecia, à primeira instância, um instrumento à léguas distante da prática musical neste estado. A presença daqueles foliões em plena cidade do Rio de Janeiro me parecia, naquele momento, em uma imagem de um passado distante e irrecuperável. Foi necessário que se passassem alguns anos para que viesse a conhecer mestre Hevalcy da Folia de Reis Sagrada Família da Manguera e, conseqüentemente, viesse a vislumbrar a intrincada rede social que circunda as Folias de Reis fluminenses. 
Embora não apareça na capa, a sanfona de oito baixos desempenhava um papel relevante nesta folia de reis, assim como nas folias de reis do estado do Rio de Janeiro em geral. Como tal, é o instrumento mais destacado desta gravação, secundado por violas, violões e percussões.
Na "Toada de Abertura", temos o estribilho (seção instrumental) alternado com a toada propriamente dita, que são as estrofes cantadas. Os estribilhos são solados pelo sanfoneiro, que utiliza uma sanfona não-identificada em mi bemol/lá bemol. Nesta época, era comum, segundo me explicou mestre Hevalcy, que as folias utilizassem sanfonas propriamente construídas para a folia de reis, a exemplo dos instrumentos confeccionados por Seo Tão de Laranjal. Os textos das toadas são inspirados em versículos bíblicos e podem atingir até mesmo quarenta estrofes. Já a "Chula" corresponde aos versos declamados pelos palhaços, entre as seções instrumentais soladas por sanfona - momento em que o palhaço exibe seus dotes acrobáticos. Cada estrofe declamada, portanto, se alterna com um trecho instrumental de sanfona e percussão. No caso desta gravação, temos o emblemático palhaço "Gigante", que foi um palhaço cultuado das folias de reis do rio de janeiro.  A figura controversa dos palhaços de folia é uma alusão aos soldados de Herodes, arrependidos da função de descobrir os recém-nascidos sob ordem real de varrer do território de Jerusalem aquele que seria o Messias.
"Folia de Reis" constitui hoje um documento histórico, não apenas por retratar o processo de adaptação das folias de reis no contexto migratório dos centros urbanos, bem como por registrar uma folia que não existe mais, a Folia de Reis Estrela D'Alva do Oriente, de mestre Geraldo Teodoro, então localizada no bairro da Penha, zona norte do Rio de Janeiro. A gravação foi realizada no estúdio da Rádio Mauá. Sendo uma cerimônia processional que ocorre num tempo e espaço definido, a adaptação de uma folia de reis ao registro fonográfico não é uma tarefa simples, sendo a folia uma corporificação do próprio trajeto dos três reis magos do Oriente que se dirigem a Belém para conhecer o menino Jesus, através das jornadas às casas dos devotos que invadem o silêncio das madrugadas e irrompem com a algazarra dos palhaços nos albores da aurora...

4 comentários:

  1. Olá Ida Feldman,

    obrigado por entrar em contato. Ficaremos atentos a série.

    cordialmente,

    Leo Rugero

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  3. Tão bom poder recordar meu avô ele é o mestre folião Geraldo Joaquim Teodoro que está no centro da capa desse disco. Faleceu em agosto de 1997. Saudades

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  4. Muito bom reviver um pedaço da minha vida quando vejo a capa do disco da folia de reis do meu avô. Com orgulho sou neta do mestre Geraldo Joaquim Teodoro da folia de reis Estrela Dalva do Oriente da Penha. Meu svô partiu para etetnidade em agosto de 1997

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