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23 de mai. de 2009

OS SANFONEIROS DE URUAÇU


Em meu primeiro ensaio dedicado à sanfona de 8 baixos, dado a escassez de artigos até então escritos sobre este instrumento, optei pelo perigoso formato 'macrocósmico', onde abarquei as regiões sul, (como ponto de origem e eclosão primeira da sanfona no Brasil), o sudeste, e o nordeste, onde o instrumento sempre me pareceu ter origem proporcionada mais por viajantes ingleses do que colonos italianos e alemães, embora esta teoria ainda não se sustente por provas.

Quanto à região centro-oeste, sempre foi para mim, uma região distante geograficamente e culturalmente, e preferi, na ausência de dados concretos, não avançar neste territorio, o que aliás, penso eu, foi uma solução acertada, pois quanto maior o ângulo, menor relevo na mira do alvo, nas miudezas, nas singelezas...
Como sempre afirmo, sou fã confesso do youtube, e numa navegação fortuita pela rede, me deparei casualmente com uma dança de Goiás, chamada 'ismite'(possivel corruptela de 'Smith', no me de uma marca de revólver(!). Nesta dança, a sanfona de 8 baixos tem papel de grande relevo como mostra este video, postado por wander cleyson, na performance de sanfoneiro e pandeirista não identificados, em Uruaçu, no Estado de Goiás.

19 de mai. de 2009

Zé Calixto na TV Cultura


O poeta da sanfona Zé Calixto é o convidado do Ensaio desta quarta-feira
Sanfoneiro completa 50 anos de carreira, relembra histórias com Luiz Gonzaga e transforma o programa num autêntico arrasta-pé nordestino
Conhecido como o ‘Rei dos Oito Baixos’ - tipo de sanfona que se difere por ter apenas botões -, o instrumentista, sanfoneiro e compositor Zé Calixto é o convidado de Fernando Faro no Ensaio desta quarta-feira (20/5), às 22h10, na TV Cultura.Nascido em Campina Grande, na Paraíba, Calixto completa 50 anos de carreira neste ano e conta toda a sua trajetória artística no programa, desde quando saiu da Paraíba deixando seu casamento recente, para fazer uma gravação no Rio e Janeiro. Calixto explica que deixou sua mulher e depois de três meses voltou para buscá-la, mudando-se definitivamente para a cidade maravilhosa, em 1959. Naquele ano, o sanfoneiro gravou seu primeiro disco pela Philips.Acompanhado dos músicos Valter (7 cordas), Chris Mourão (pandeiro), Durval Pereira (Zabumba) e Zezito Pereira (triângulo), Zé Calixto transforma o Ensaio num verdadeiro “arrasta pé nordestino” com as canções Forró do Mengo, Tô aqui pra isso, Eu quero é sossego, Forró em Camaratuba, Pé-de-serra, Homenagem a Velha Guarda, Meu Pai Toca isso, Cuco/Delicado, Tudo Azul e Escadaria. Calixto lembra ainda das parcerias com grandes músicos e amigos como Jackson do Pandeiro e Luiz Gonzaga.

Sobre dois recentes filmes


Recentemente, estrearam dois filmes, tendo a sanfona e sanfoneiros como foco principal. Não vi os dois filmes, portanto não falarei sobre eles, mas sim, sobre o modo como eles estão sendo trabalhados quanto as formas de divulgação.
Tanto em "Paraiba meu amor" do diretor franco-suiço Bernand Robert-Charrue, como em "O Milagre de Santa Luzia"do brasileiro Sergio Roizemblit, o fio condutor é semelhante. Um destacável insider que conduz as câmeras dos diretores através das paisagens, revelando ao público alguns tesouros. Em "Paraiba, meu amor", o insider é Chico Cesar, compositor paraibano. Em "O milagre de Santa Luzia", é Dominguinhos. Se o primeiro filme trata do forró tradicional, e de atores sociais representantes desta modalidade, no segundo o foco é mais amplo: simplesmente, o acordeom no Brasil (!).
Antes que eu veja os filmes, e verei o quanto antes, e desejo que todos vejam, o que eu quero sublinhar são alguns "cacoetes" do mercado, que desprezam solenemente a pesquisa musical, em prol de generalizações, e amplos paineis que tentam dar conta de uma diversidade talvez impalpável.
Em "Paraíba, meu amor", o cartaz promocional do filme exibe a seguinte frase: "Um filme sobre o forró, a musica do nordeste brasileiro". Destaco o artigo "a", por definir o sujeito em torno de uma modalidade. Assim, a vasta experiência sonora nordestina, que compreende fenômenos como a banda cabaçal, a cantoria, as excelências, os maracatus e porque não a mangue beat e a musica armorial, fica circunscrita a uma faixa estreita, tida como "a" legitima representação, e não "uma" legitima representação. Este modelo de generalização , é mais comum que imaginamos, e deu-se ainda na primeira metade do século XX em torno do samba, eleito como a"musica nacional", por excelência. O mais dramático no filme de Robert-Carrue, é o fato de ser dirigido ao mercado europeu, onde o "canibalismo cultural"(utilizando a expressão do antropólogo José Jorge de Carvalho), tende a remodelar a imagem de uma música "étnica" quando esta ingressa no mercado multinacional da "world music".
Em "O milagre de Santa Luzia", o amplo painel do acordeom no Brasil, objetiva um campo extremamente "macrocósmico", onde muitas omissões podem ser cometidas, mesmo entre os nomes mais relevantes. Assim, a sanfona de 8 baixos nordestina representada por Arlindo dos 8 baixos, mas aonde estão Luizinho Calixto, Heleno dos 8 baixos, Geraldo Corrêa ou Zé Calixto?
O perigo da generalização é tentar confinar em 100 minutos, uma história ampla. Fechar o foco, buscar o "microcosmico" no campo de pesquisa, delimitar o campo ao minimo necessário pode ser algo tácito, e estimulante. Pois normalmente, as historias das artes em geral, ainda são contadas por nomes de autores e suas obras.
Para concluir este comentário, deixo com a palavra o etnomusicologo Bruno Nettl, sobre as dificuldades do campo de pesquisa macrocósmico: "Devido a necessidade de uma organização engenhosa e um controle de infinidade de dados, poucos investigadores tem tratado com algum êxito de realizar a aproximação compreensiva 'macro'".

Referências:

Nettl, Bruno. Reflexiones sobre el siglo XX. Revista Transcultural de música n.7, 2003.

13 de mai. de 2009

joão torquato


João Torquato (sanfona de oito baixos) e pandeirista não identificado. Roda de Calango, bairro Alto Taquara, Petropolis, Rio de Janeiro.

O calango e a sanfona de 8 baixos em Petrópolis



O calango e a sanfona de 8 baixos em Petropolis

Escrito por Léo Rugero em 2009

Hoje, 13 de maio, dia "oficial" da Abolição da escravatura, já não é mais o dia de comemorações de afro-descendentes, tendo sido escolhido, por razões óbvias,  o dia de Zumbi dos Palmares, legitimado historicamente como líder de movimentos emancipatorios (quilombos).

No entanto, para mim, o dia 13 de maio será sempre uma data importante, que marca o falecimento de um mestre e amigo,  João Torquato, que realizou sua passagem no ano de 2006. Portanto, é sempre um dia  que me traz a doce  lembrança deste saudoso amigo e sanfoneiro.
Meu primeiro encontro com João foi também o meu primeiro contato com a sanfona de 8 baixos, instrumento que, até então, eu desconhecia.Corria o ano de 1999, quando, por intermédio de João, pude assistir, no Bairro Alto Taquara, em Petropolis, a uma roda de calango. A partir desta noite, outros encontros musicais surgiriam, e acima disso, uma sólida amizade, que se refletiria em visitas semanais, devido a proximidade de nossa vizinhança.


João Torquato nasceu no Sitio Taquara em 20 de Outubro de 1947. Oriundo de uma familia de migrantes mineiros, herdou os saberes musicais de seu pai. Ainda menino, ganha de presente uma sanfona Hohner, instrumento que lhe acompanhou por toda a vida. Casando-se, foi pai de quatro filhos, três mulheres e um homem. Trabalhou em todo o tipo de oficios, desde caseiro à motorista. Segundo contava, nos anos 70 teve certa atividade profissional como músico, tocando em bailes.
A formação musical de João passava, indubitavelmente, por tradições musicais ligadas aos descendentes de escravos do Estado de Minas Gerais. Em consequência da maçiça migração de mineiros ao município de Petropolis, no Estado do Rio de Janeiro, para o trabalho braçal em residências de veraneio de familias abastadas. O bairro Taquara é um dos lugares onde houve, no passado, um dos maiores fluxos neste sentido. Práticas musicais tradicionais foram mantidas até meados dos anos 90, quando, por uma convergência de causas socioeconômicas conduziriam estas práticas musicais à extinção. Os bailes de calango seriam substituidos, com o advento da luz elétrica em locais até então isolados, como o bairro Alto Taquara, por musica reproduzida mecanicamente, ou pela televisão. Novas influências musicais decorrentes da musica massiva, também remodelam o gosto musical, sobretudo entre os jovens, seduzidos por novas influências midiáticas da musica afro-brasileira como o pagode e o funk. Também por volta desta época, as igrejas evangélicas, com certa profilaxia, inibem através da ação pastoral algumas práticas musicais tradicionais, frequentemente associadas ao paganismo, entre as quais, o calango, a umbanda e a folia de reis. No entanto, entre as práticas musicais que transcorrem atualmente no interior de templos evangelicos no Bairro Alto Taquara, pudemos observar um hibridismo entre o hinário evangélico tradicional, e ritmos do calango, umbanda e da folia de reis, demonstrando de alguma forma, uma linha de continuidade, seja na maneira de cantar, no uso de palmeado, e também em alguns instrumentos de percussão. Conforme observa Bruno Nettl, em processos onde há "mudança musical", "devemos procurar os elementos que mantém a unidade ao longo do tempo". Ainda que muitos jovens do Alto Taquara provavelmente não conheçam ou mesmo nunca tenham ouvido falar a respeito do calango ou da folia de reis, residuos destas musicas estão presentes em suas novas práticas, ainda que estas sejam muito distintas das praticas de seus pais ou avós. "Tenho a impressão de que quanto mais radicais forem as mudanças em um estilo musical, mais significativos são esses fatores, às vezes obscuros, que garantem a continuidade"(Nettl, 2006, 28).
No calango, a instrumentação básica é composta de sanfona de 8 baixos, como instrumento solista e acompanhador, e pandeiro. A estes podem ser acrescidos outros instrumentos, como viola de dez cordas, violão e outros instrumentos de percussão, dependendo dos recursos de cada comunidade.A improvisação é um elemento importante na música do calango, seja em sua forma cantada ( o calango de desafio), onde dois cantores se alternam em quadras rimadas e improvisadas, como no calango instrumental, solado em sanfona de 8 baixos. Os calangos ocorriam na forma de bailes organizados pelas comunidades nos finais de semana, ou de forma espontânea, no encontro fortuito de "calangueiros" (praticantes do calango) no final dos dias, em fundos de quintal ou na porta das "biroscas".


João Torquato era um sanfoneiro completo neste gênero musical, dominando tanto os padrões de acompanhamento, como temas instrumentais.
Atualmente, os calangueiros em Petropolis se situam dispersos, e decorrente deste fato, raramente há encontros entre eles, ainda que informalmente.A faixa etária dos calangueiros mais jovens está entre os 50 e 60 anos, o que denota a dissolução desta prática entre as novas gerações.


Referências:
Nettl, Bruno. O estudo comparativo da mudança musical: Estudos de caso de quatro culturas. Revista ANTROPOLOGICAS, ano 10, volume 17(1): 11-34 (2006)
Peres, Leonardo Rugero. Anotações de campo.1999 - 2009.

5 de mai. de 2009

zé do oito baixos.wmv


05/05/2009
Sanfona de 8 baixos - um instrumento em extinção?
A cada dia que passa, me parece menos verossímil a afirmação de que a sanfona de 8 baixos esteja em extinção. De um lado temos velhos mestres da primeira geração fonográfica do instrumento em plena atividade, como Zé Calixto e Geraldo Corrêa. Uma geração intermediária de mestres como Arlindo dos 8 baixos, sexagenário que vai se afirmando cada vez mais como representante deste instrumento. Alguns mais jovens como Luizinho Calixto e Heleno dos 8 baixos, trazendo inovações ao estilo nordestino, seja incorporando novas influências, seja criando novas técnicas ou ainda legitimando novos repertórios. Faltam novos valores, da juventude, isto sim. Mas o ingresso de Arlindo e Luizinho na área da educação musicacal parece algo muito promissor na formação de novos interpretes para este difícil instrumento.
E há ainda, aqueles sanfoneiros à margem das edições fonográficas, e das casas profissionais de forró, mas nem por isso, menos dotados em sua técnica e arte. Como este Zé do Oito Baixos, que ainda agora tive oportunidade de ouvir, graças a uma postagem de Rianlokura, que parece ser um devoto dos 8 baixos. Ouçam, e surpreendam-se com esta novidade, pois há ainda mestres intocados, longe dos refletores...http://www.youtube.com/watch?v=fYEDDk1cpN0

Sanfona de 8 baixos - um instrumento em extinção?

A cada dia que passa, me parece menos verossímil a afirmação de que a sanfona de 8 baixos esteja em extinção. De um lado temos velhos mestres da primeira geração fonográfica do instrumento em plena atividade, como Zé Calixto e Geraldo Corrêa. Uma geração intermediária de mestres como Arlindo dos 8 baixos, sexagenário que vai se afirmando cada vez mais como representante deste instrumento. Alguns mais jovens como Luizinho Calixto e Heleno dos 8 baixos, trazendo inovações ao estilo nordestino, seja incorporando novas influências, seja criando novas técnicas ou ainda legitimando novos repertórios. Faltam novos valores, da juventude, isto sim. Mas o ingresso de Arlindo e Luizinho na área da educação musicacal parece algo muito promissor na formação de novos interpretes para este difícil instrumento.
E há ainda, aqueles sanfoneiros à margem das edições fonográficas, e das casas profissionais de forró, mas nem por isso, menos dotados em sua técnica e arte. Como este Zé do Oito Baixos, que ainda agora tive oportunidade de ouvir, graças a uma postagem de Rianlokura, que parece ser um devoto dos 8 baixos. Ouçam, e surpreendam-se com esta novidade, pois há ainda mestres intocados, longe dos refletores...http://www.youtube.com/watch?v=fYEDDk1cpN0

4 de mai. de 2009

Parabéns Arlindo


Arlindo dos 8 baixos, recém sexagenário em 19 de Abril último, recebeu um grande presente de aniversário. Por intermédio da Fundação do patrimônio artistico de Pernambuco (Fundarpe), Arlindo receberá uma verba anual de R$ 114 mil reais para manter a sua casa, já tradicional, o forró do Arlindo.

A importância do Forró do Arlindo não se restringe ao fato de ser uma casa mantenedora do forró pé-de-serra. Também deve sua importância por ter sido idealizada por um sanfoneiro, o mestre Arlindo, que inicialmente, de forma espontânea, queria apenas reinvindicar um espaço à uma modalidade de forró que estava fora dos grandes espaços de representação da midia. Desde então, dez anos se passaram, e o Forró do Arlindo se torna uma atração indispensável a quem estiver de passagem por Recife. Não podemos esquecer que a sanfona de 8 baixos na região Nordeste esteve desde sempre indissociável do forró pé-de-serra, outrora escola de grandes músicos que despontaram desta região como Hermeto Pascoal e Dominguinhos, e a continuidade desta tradição quiçá, poderá revivificar a bela arte da sanfona de 8 baixos nordestina.


Forró de Arlindo dos 8 BaixosRua Hildebrando de Vasconcelos, 2900, Dois Unidos – Recife/PE