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21 de out. de 2014

O Fole Roncou: EDITORIAL - ESPAÇO PARA OS SANFONEIROS DE 8 BAIXOS...

EDITORIAL - ESPAÇO PARA OS SANFONEIROS DE 8 BAIXOS - PROGRAMA 09


Espaço para os sanfoneiros de 8 baixos
25 de maio de 2013
No
dia de hoje queremos dividir com vocês, caros ouvintes, a nossa preocupação com
a falta de espaço para os sanfoneiros de 8 Baixos apresentarem seus trabalhos.
Temos acompanhado de perto, nos últimos 10 anos, em função de nossa pesquisa
sobre o fole, a luta dos mestres e dos novos talentos para serem reconhecidos
no mercado musical, porque sua arte está acima dessa conjuntura que reflete
muito a política cultural dos governantes, e é essa política que define na
maioria das vezes em nossa terra quem tem espaço e visibilidade.
A
arte desse instrumento de memória oral esteve bem perto de se perder há alguns
poucos anos atrás. Graças à garra de Arlindo dos 8 Baixos se dedicando a tocar,
ensinar, consertar e afinar os foles; à Luizinho Calixto que, junto com a
primeira gestão do Memorial Luiz Gonzaga, do Pátio de São Pedro do Recife,
realizou as primeiras oficinas para repassar o conhecimento do instrumento de
forma mais sistematizada em um método pioneiro que ele próprio vem
desenvolvendo; à Heleno dos 8 Baixos, que junto com Valdir Santos e João Bento,
montaram a primeira escola permanente para o ensino de 8 baixos no bairro de Vassoural,
em Caruaru, para as crianças e jovens da comunidade, tendo um de seus alunos, o
Ivison, já realizado turnê na Europa;
À
Heleno Truvinca, que passou vinte anos esquecido no Rio de Janeiro, mas agora
retoma sua carreira como um dos poucos, talvez o único a tocar as duas
afinações para este instrumento, e mostrou esse saber que é nosso patrimônio
cultural em mais de 100 apresentações pelo país afora através do SESC no
projeto SONORA BRASIL; à coragem de Roberto Andrade, de realizar o 1º Encontro
de Sanfoneiros de 8 Baixos no Recife; à Marcos Veloso, que continua realizando
o Encontro de Sanfoneiros do Recife, este ano na sua 16ª edição, sempre
convidando e homenageando os tocadores de fole; aos mestres de Santa Cruz do
Capibaribe, a Terra dos 8 Baixos, que retomaram a autoestima pelo instrumento,
criando a Orquestra Sanfônica de 8 Baixos daquela cidade. E tantos outros
anônimos amantes do instrumento que se dedicam a colecionar e divulgar em
sites, ou através de outros meios, a produção fonográfica e a história desses
artistas, como o pesquisador carioca Leo Rugero, essas sementes brotaram, e
hoje, as crianças e jovens voltaram a se interessar pelo instrumento, como o
Trio OS  CAÇULAS DO 8 BAIXOS, de Caruaru,
que já faz shows pela cidade.
É
toda uma rede que permanece invisível para o grande mercado da música, e com
tristeza vemos a dificuldade de inserção desses artistas nas grades de
programação do São João das nossas cidades. Os cachês propostos para alguns
poucos mestres consultados é aviltante, depois de tantos anos de luta e
preservação de nossa identidade musical, enquanto alguns expoentes de uma
música sem tradição e lastro são aclamados e agraciados com cachês exorbitantes
e numerosas apresentações. Precisamos repensar certas exigências que são colocadas
para os artistas receberem pelo seu trabalho, como a comprovação de cachês
anteriores. Como os novos podem comprovar cachês? Como os veteranos podem ter
um cachê mais decente, se estão atrelados à média do que foi proposto em anos
anteriores? É uma política de congelamento de cachês para os menos influentes,
com a desculpa de visibilidade e espaço?
Deixamos
aqui nosso desconforto e indignação com o tratamento que vem sendo dado aos
nossos mestres e artistas do fole de 8 baixos.
Esperamos
que essa arte continue resistindo até que possa existir com o reconhecimento
que merece.



Anselmo
Alves e Lêda Dias

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