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10 de abr. de 2012

Camara Cascudo observa os tocadores de fole texto de Leonardo Rugero Peres (Leo Rugero)

Neste momento, estou relendo o livro "Vaqueiros e Cantadores" de Câmara Cascudo. No capítulo destinado ao desafio, o autor enumera os instrumentos da cantoria nordestina. A certa altura, fala sobre a presença da sanfona entre cegos cantadores, afirmando que "apareceram cegos cantadores com harmônica (acordeão, sanfona, realejo, fole, com dez a dezesseis chaves). Mas a harmônica está fora de ser levada para um desafio" (2000, p.184). De fato, o desafio nordestino está intrinsecamente associado à viola. A partir de meados da década de 1950, a viola dinâmica lançada pela Del Vechio se tornou o instrumento principal da cantoria. A rabeca também aparece, embora cada vez mais rara enquanto instrumento de cantoria, estando mais presente em tradições como o Cavalo Marinho ou até mesmo como instrumento solista de forrós. O pandeiro se tornaria o principal instrumento do coco de desafio, mais associado `à zona da mata. Por fim, a sanfona se tornou o principal instrumento animador dos bailes, com um repertório eminentemente instrumental e, posteriormente, vocal, mas dificilmente relacionada ao ambiente dos desafios entre cantadores. Entre os sanfoneiros, o desafio não é poético nem verbal, é eminentemente sonoro. As pelejas entre tocadores de sanfona não são tão explícitas. Aparecem veladas, debaixo de estritos termos de cordialidade entre seus pares.
Interessante observar que Cascudo se refere às harmônicas de "dez a dezesseis chaves". Devemos lembrar que em modelos de acordeões novecentistas - sobretudo o chamado "acordeom romântico", os botões se assemelhavam à chaves, muitas vezes dispostos em uma única carreira, entre chaves maiores (notas brancas) e chaves menores (notas pretas). Tais modelos extinguiram-se, sendo substituídos pelas sanfonas de quatro a oito baixos com uma ou duas carreiras de botões para a mão direira (modelo vienense), que se tornaria o modelo emblemático utilizado por Januário e perpetuado histoticamente na tradição do fole de oito baixos nordestino.

Referência:

CASCUDO, Câmara. Vaqueiros e Cantadores - Folclore poético do sertão do Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte e Pernambuco.Rio de Janeiro, Ediouro, 2000.

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