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22 de dez. de 2011

Escola de Forrozeiro


Abaixo, matéria de Carolina Santos publicada no Diário de Pernambuco de 17/12/2011,sobre os novos mecanismos de transmissão da sanfona na região Nordeste.

Diario de Pernambuco, 17/12/2011

Escola de forrozeiro

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Exu – A sanfona era tradicionalmente um instrumento aprendido dentro da família, fosse com o pai, um tio, padrinho ou avô. “Muitas vezes era como um jogo. O pai tinha o instrumento, mas não deixava a criança pegar. Aí os meninos geralmente começavam a tocar escondido, até que alcançavam um nível e o pai começava a ensinar. Era como se fosse um teste, para ver se o menino queria mesmo tocar”, conta o pesquisador de sanfona Leo Rugero. Com a rotina mais pesada das cidades, essa tradição foi se perdendo. Para popularizar o aprendizado do instrumento, o Ponto de Cultura do Parque Aza Branca, em Exu, mantém escola para 24 crianças, dos oito aos 16 anos, ensinando sanfona, triângulo e zabumba.

O único professor da escola, William Kay, de 24 anos, aprendeu a tocar sanfona há 8 anos em um outro projeto, o Asa Branca, que funciona no centro da cidade, bancado pela Prefeitura do Exu. Por conta do déficit de sanfoneiros na cidade – o projeto Asa Branca acabou há cerca de cinco anos e só voltou a funcionar recentemente – William toca em várias bandas ao mesmo tempo. “Com os alunos que estão saindo daqui, isso vai mudar. Tem muito grupo de forró precisando de sanfoneiro”, diz. “Com um ano de aulas o aluno já está apto a tocar profissionalmente. Dependendo da dedicação, até em menos tempo”, completa.

Alguns alunos se anteciparam e já montaram bandas. Edcarlos Rodrigues, de 10 anos, é o sanfoneiro da banda Forrozeiros de Gonzagão, ao lado do primo Mateus Cassiano Lopes, também de 10 anos, que toca triângulo. “O meu sonho é continuar com a banda e ser médico”, diz Mateus. Os dois já apareceram em três emissoras de TV da região e já fizeram alguns shows no Ceará e no Sertão do Araripe.

O principal pré-requisito para entrar no curso é estar matriculado na escola. A maioria quer transformar a sanfona em instrumento de trabalho, mas ao mesmo tempo ter um emprego convencional. Aos 16 anos, Felipe Bruno se prepara para o vestibular do curso técnico de construção civil. “Mas nunca vou deixar de tocar sanfona. É um hobby que quero pra vida toda”, diz.

Nas aulas, só é ensinado a tocar forró e a primeira música que os alunos aprendem é Asa Branca. “Nem digo que é forró pé-de-serra, porque aqui abolimos esse termo. Esse é o verdadeiro forró e ponto. O que chamam de forro eletrônico não tem nada a ver com forró, é uma adaptação do vaneirão do Rio Grande do Sul”, define o professor. Os alunos aprovam o conceito. “A gente só toca músicas de Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Jackson do Pandeiro, Targino Gondim...”, enumera Edcarlos.

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