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28 de jun. de 2011

Januário e sua sanfona de oito baixos - texto de Leo Rugero




Pouco sabemos a respeito de Seu Januário, pai de Luiz Gonzaga e “vovô do baião”. José Januário dos Santos nasceu em Floresta, sertão de Pernambuco, no dia 25 de setembro de 1888, ano da Abolição da Escravatura. Alguns dizem que Januário não teria nascido em Floresta, mas em algum outro município dos arredores. Também não se sabe, ao certo, em que ano Januário chegou à Fazenda Araripe, nas terras pertences ao Coronel Manuel Aires de Alencar, filho de Gauder Maximiliano Alencar de Araripe, o Barão de Exu. Pelo que conta a história oral, esta palavra homônima do orixá africano, é uma corruptela de Ansú (?), grupo indígena que habitava a Serra do Araripe. Daí o nome daquele latifúndio pertencente ao Barão ter sido posteriormente batizado de Exu.
Januário trabalhava como agricultor e na confecção de couro. Não se sabe como Januário teria aprendido a tocar e afinar sanfona de oito baixos. Teria sido sozinho, isolado no sertão pernambucano? Alguns dizem que ele teria conhecido um mascate judeu na Chapada do Araripe.
Nas recordações de infância de Luiz Gonzaga, seu pai aparece como um sanfoneiro respeitado das redondezas. De forma mítica, Januário é apontado como o pioneiro da sanfona nordestina. Com certeza, haviam outros sanfoneiros, com seus solos de sanfona que talvez tenham sido levados para sempre no vento que sopra nas catingas, a espera de que alguma fotografia ou lembrança familiar seja encontrada para que a história possa ser reescrita. Se sabemos algo mais sobre Januário, isso se deve à Luiz Gonzaga. Graças às letras e narrativas de Gonzaga, conhecemos tão bem certos personagens e detalhes daquela região que muito provavelmente estariam esquecidos, ou, ao menos, escondidos por trás da espessa mato do cerrado.
A atuação profissional de Januário no contexto fonográfico foi errática, tendo ocorrido em 1955, na gravadora RCA-Victor, quando gravou dois discos de 78 rotações, acompanhado de sua prole. No selo dos discos, o velho sanfoneiro era apresentado como “Januário, seus filhos e sua sanfona de oito baixos”. Nestas gravações, podemos ouvir a “sanfona abençoada”, tal como se refere Luiz Gonzaga no xote “Januário vai tocar”. A letra autobiográfica, discursa sobre o papel social do sanfoneiro nos bailes interioranos e reforça a relação deste instrumento com o passado rural e as populações menos favorecidas economicamente: “a cidade te acha ruim, mas eu não acho".

Ai, ai, sanfona de oito baixos,
Do tempo que eu tocava na beira do riacho.
Ai, ai, sanfona de oito baixos,
A cidade te acha ruim, mas eu não acho

Lá na Taboca, no Baixio, lá no Granito,
Quando um cabra dá o grito: - Januário vai tocar!
Acaba feira, acaba jogo, acaba tudo,
Zé Carvalho Carrancudo tira a cota pra dançar.

Outra música gravada por Januário é o solo instrumental “Calango do Irineu”, que pode nos revelar um pouco da técnica e do estilo pessoal de Januário. Neste baião, está presente a 7a menor da escala maior, tão característica da música trazida por Luiz Gonzaga. Também estão as 3as paralelas e consecutivas, segundo o maestro Guerra-Peixe, uma reminiscência do gymel, uma técnica de harmonização medieval surgida na Inglaterra tão presente na música brasileira. Acima de tudo, nesta música encontramos aquele “tempero” que torna peculiar o estilo nordestino de tocar sanfona, que é facilmente perceptível ao primeiro toque, embora difícil de ser descrito em palavras.
Alguns anos antes, em 1950, Januário seria apresentado ao grande público, através do disco e do rádio, por seu filho, Luiz Gonzaga e o parceiro Humberto Teixeira, com o xote “Respeita Januário”. Numa narrativa metalingüística, Gonzaga descreve seu deslocamento de Exu, foragido de uma briga, da qual foi ameaçado de morte, e a longa epopéia que culmina com o retorno ao berço natal, já consagrado como Rei do Baião no Rio de Janeiro, então capital do Brasil. Escrito com tinturas épicas de uma saga nordestina, o relato de Gonzaga tornou-se maior e mais real do que a história literal, onde personagens ganham vida em diálogos que teriam sido inventados, mas que acabaram tomando vida própria e se eternizando de forma mítica na imaginação popular. Muito provavelmente, pela primeira vez, na história da canção popular urbana, se versava sobre a sanfona de oito baixos e o papel social do sanfoneiro no sertão nordestino. Outro aspecto salientado pela letra desta canção é a relação de constante recusa e desafio entre pai e filho que permeia a transmissão da herança cultural, que não é ensinada, mas é aprendida.
No ano de 1952, Luiz Gonzaga reuniu seu pai e seus irmãos, formando o conjunto “Os Sete Gonzagas”, que realizou apresentações inesquecíveis nas rádios Tupi, Tamoio e Nacional. Por sorte, estas gravações foram registradas em áudio, e podemos ouvir as performance de Januário ao vivo.
No entanto, Januário poderia ser aquele personagem da letra de Gilberto Gil para a melodia “Lamento Sertanejo” de Dominguinhos. Avesso à cidade grande, “por ser de lá do sertão, lá do roçado, lá do interior do mato, da catinga e do roçado”. Januário não se adaptou ao sitio dos Gonzaga em Santa Cruz da Serra, no Rio de Janeiro. Preferiu voltar a Serra do Araripe, entre a catinga e o roçado, na lavoura, tocando sanfona de oito baixos na beira do riacho.
No entanto, a despeito de sua atuação profissional em música ter sido tão breve e fugaz, sua herança foi transmitida através dos filhos; Luiz Gonzaga, Zé Gonzaga, Severino Januário e Chiquinha Gonzaga. Através deles, a música do velho Januário foi ressignificada ao contexto fonográfico, se entranhando na alma nordestina, como se fizesse parte da paisagem sertaneja, traduzindo em contornos melódicos a poética do sertão.





Januário veio a falecer aos 90 anos, em 11 de junho de 1978, em Exu. Salve Januário, pai de Luiz Gonzaga e pioneiro da sanfona de oito baixos na região Nordeste.

27 de jun. de 2011

Januário - texto de Leo Rugero

Entre os dias 07 e 11 de junho, tive oportunidade de conhecer Exu, cidade natal de Luiz Gonzaga, por intermédio do programa Globo Repórter.O convite foi realizado em decorrência de minha pesquisa sobre a prática nordestina da sanfona de oito baixos. Viajei ao lado da excelente equipe formada pelo repórter José Raimundo, o produtor Jorge Ghiaroni, o cinegrafista Jota Junior e o assistente Toni Abreu. Embora tenha sido breve, foi uma viagem intensa, de muitos aprendizados.
No dia 08, visitamos o Parque Asa Branca. Outrora um sitio pertencente à Luiz Gonzaga, o parque abriga a Casa de Gonzagão, que foi a última moradia de Luiz Gonzaga; o Museu do Gonzagão, que coleciona instrumentos musicais, fotografias raras, partituras e objetos pessoais que pertenceram ao Rei do Baião; o Mausoléu do Gonzagão, onde se guarda o tumulo de Luiz Gonzaga; e, por fim, a Casa de Januário.
Como não poderia deixar de ser, escrevi um pequeno diário de campo e julguei relevante postar o trecho abaixo, por dois aspectos: primeiramente, por se tratar de uma reflexão sobre o momento da entrevista que foi selecionado para a edição final do programa. Em segundo lugar, pelo fato de corresponder a Casa de Januário, figura mítica que ocupa o posto de patrono da sanfona de oito baixos na região nordeste.
A Casa de Januário tem algo de mágico. Esta casa carrega um apelo irresistível, talvez por conter um elemento pitoresco: é decorada como uma casa, e não como um museu. Deste modo, há um tom acolhedor no ambiente onde a sugestão é que Januário ainda estivesse presente naquele lugar. A varandinha, com duas cadeiras. O quarto, com a cama, o cajado e o quadro com os filhos. Seu Januario e Dona Santana nas fotografias em porta-retratos. O oratório no centro da sala. Um antigo gramofone e um rádio de pilha sobre a mesa perto da janela. Uma sanfona antiga. O forno à lenha da cozinha...
 Me imaginei tomando um cafezinho e trocando dois dedos de prosa com o velho Januário. E foi nesta casa, em meio a este ambiente, que ocorreu aquele que foi o registro escolhido pelos editores do programa: o pesquisador, visivelmente emocionado, ao deparar-se com uma antiga sanfona que teria sido montada por Januário. Para alguns, este instrumento jamais teria pertencido ao “vovô do baião”, o que só vim a saber depois das filmagens. Mas como sabê-lo? Januário era artesão e afinador, e é natural imaginar que ele mantinha vários instrumentos, muitos dos quais jamais tenha utilizado profissionalmente. No marketing do museu, esta sanfona é mostrada como um instrumento construído por Januário, o que pode não condizer com a verdade. É uma sanfona de provável origem alemã ou francesa, que deve ter sido construída ainda no séc. XIX. No entanto, Januário pode ter reaproveitado partes de instrumentos para remontá-la, o que é muito comum entre os artesãos que trabalham com sanfonas antigas do Nordeste. Em minha coleção particular, possuo ao menos três sanfonas que já perderam sua identidade original, de tal modo que foram modificadas, tanto em seus componentes internos como em seu aspecto externo. Na matéria, o instrumento foi apresentado como uma das mais antigas sanfonas do Brasil, o que é justo, porém, teria sido realmente montada por Januário? Teria este instrumento chegado ao sertão na época de sua construção? Mais uma vez, a verdade literal cede à licença poética, e aquele velho instrumento responde aos anseios de uma resposta à origem, ao marco-zero, ao que há de mais ancestral na cultura. E a razão cede à fantasia do momento. E o pior: a imagem do pesquisador emocionado que confirma a antiguidade do instrumento e é levado pela “folclorização” a acreditar que ali está um fóssil do passado da sanfona nordestina. 
Há um aspecto da musicologia que pode afeiçoar-se ao trabalho arqueológico das escavações do passado. E nossas conclusões fenecem ao tempo, tal como fenecem os fósseis. Foi esta a imagem escolhida para a edição final do programa. Talvez, por apresentar uma particularidade: não dizer nada e ao mesmo tempo dizer tudo. E reforçar a natureza mítica de um discurso avesso ao rigor teórico acadêmico, que encontra ressonância no poder do mito contido simbolicamente nas imagens. No caso, a sanfona de Januário, um mito fundador da prática nordestina da sanfona de oito baixos. O pesquisador, cabisbaixo, cede a fugacidade momentânea e incorre no possível erro de deixar-se levar pelo vento do momento, concordando com o valor atribuído ao objeto, e de tudo aquilo que sabe, acaba revelando ao público aquilo que não sabe, sua santa ignorância, irmanando-se com o espectador comum que está descobrindo aquele assunto assim como o pesquisador e o apresentador naquele dado instante. Agora é tarde, e a história é reescrita a mercê de sua própria sorte, através da arte daqueles que a escrevem.


Foto: Leo Rugero

Foto: Jota Jr

25 de jun. de 2011

Hermeto - Forrozão dos Oito Baixos



A sanfona utilizada por Hermeto pertenceu a seu pai, e antes de tocar a música "Forrozão dos Oito Baixos", Hermeto lembrou de uma passagem engraçada de Seu Pascoal num vôo de avião para a Argentina, no final da decada de 1970.

"Papai morava no bairro Jabour e um dia nós fomos tocar na Argentina e o papai com essa mesma sanfoninha. Chegou na hora, eu não lembro qual era a companhia de aviação, nós sentamos, aí a aeromoça chegou assim bem delicadamente e disse: "Moço, por gentiliza, o senhor tem que me dar esse instrumento para eu levar lá para cima, porque o senhor não pode viajar com ele no colo". Meu pai falou pra ela na maior simplicidade do mundo: " Minha filha, esse instrumento aqui, pra você levar lá pra cima, você tem que me levar também." Aí, ficou aquele empate dentro do avião, o avião já se preparando para decolar, aí eu falei pro papai: "Papai, deixe ela levar, que ela toma cuidado". Aí papai disse assim: "Meu filho, pra eu largar esse oito baixos aqui, eu tenho que ir junto, pra onde ele for eu tenho que ir junto". Aí chamaram a aeromoça novamente, e ela deixou ele viajar com o oito baixos. E ele viajou com o oito baixos agarrado assim".

Arlindo dos 8 baixos no São João em Recife

Confira as atrações do São João no Recife para hoje
Redação do DIARIODEPERNAMBUCO.COM.BR 
25/06/2011 | 12h03 | Festa


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O São João continua animado no Recife. Neste sábado, alguns dos
destaques da programação montada pela Prefeitura são Anastácia,
 Carlos e Paulinho do Acordeon, Isaar, Cláudio Rabeca,
 Arlindo dos Oito Baixos e Camarão. São vários polos espalhados
pela cidade para animar o público.
No Parque Dona Lindu, em Boa Viagem, vai acontecer o show da
cantora Anastácia, às 18h, que vai interpretar canções que
 fizeram sucesso na voz de vários artistas brasileiros.
No mesmo bairro, na Pracinha de Boa Viagem, Edy Carlos e
Paulinho do Acordeon vão animar o Arraial do Turista, a partir das 19h.
Já em Casa Amarela, no conhecido Sítio da Trindade, a festa
junina fica por conta de Arlindo dos Oito Baixos, que se
apresenta às 21h40, e Mestre Camarão, que entra no palco às 23h.
A cantora Isaar vai trazer sua música para o polo Arsenal
do Forró, no Recife Antigo. Logo depois, Cláudio Rabeca faz
 sua performance no mesmo local.
A programação completa está disponível no site www.saojoaodorecife.com.br

Trecho de Matéria do Globo Reporter sobre o São João


Edição do dia 24/06/2011
24/06/2011 23h00 - Atualizado em 24/06/2011 23h57
Herdeiros de Gonzagão mantém tradição do forró no Recôncavo Baiano

Fartura na roça e muita música: regada a milho, a festa junina no Recôncavo Baiano é reduto de herdeiros musicais de Luiz Gonzaga e o pífano vira parceiro da sanfona.

Jose RaimundoCruz das Almas, BA
 O caminho da roça já é uma festa. As cantigas elas aprenderam quando ainda eram meninas. A agricultora Antônia de Araújo e as amigas moram em Cruz das Almas, no Recôncavo Baiano.
Já a agricultora Maria Emília dos Santos mora em Laranjeiras, interior de Sergipe. O milharal que ela tem é pequeno, apenas três hectares, mas a alegria é enorme. “Sei que estou na grandeza. A grandeza de uma roça é boa demais", conta dona Maria.
E como é bom. Na Bahia, dona Antonia diz que rezou muito, fez promessa para o milharal crescer e produzir.
Fartura na roça, nessa época de São João, depende muito de São José. Se não chover no dia dedicado a ele, 19 de março, a colheita atrasa. Pode até não ter colheita. E, sem o milho, a festa junina não é a mesma coisa. Felizmente não foi o que aconteceu esse ano.
Choveu bem e no tempo certo. A colheita é das melhores: espigas bonitas, bem formadas, grãos graúdos. Dona Antonia conta que o milho é colhido para a feira livre e é vendido em Cruz das Almas. “E se for um milho desses, de primeira qualidade, melhor ainda".
Dona Maria mal consegue esperar. Não vê a hora de assar milho na fogueira e botar a canjica no fogo. “Ah, esse está ótimo”. A agricultora é viúva de três casamentos. Tem 76 anos, mas não parece.

De tão divertida, dona Maria é a própria festa de São João. E a dona Antonia? Será que ela guardou um pouquinho do milho que colheu?
O melhor lugar da casa, no Nordeste, no mês de junho, é a cozinha. E a cozinha de dona Antonia é uma maravilha. Fogão à lenha, milho cozido, amendoim cozido, mingau de milho verde. É o milho que vem da roça direto para a panela.
E nem precisa esperar pela noite de São João. Na casa de dona Antonia, mês de junho tem comida de milho todo dia. É uma farra gastronômica.

Lá vem dona Maria com a canjica. E, pelo cheiro, já deu para sentir. “A festa junina não é uma festa de excluir homens e mulheres. Nem o pobre nem o rico. Na casa que a gente chega para brincar, comes e bebes é para todo mundo", diz dona Maria.
E se levar a conversa para o lado das antigas músicas juninas, aí é que ela gosta. “Milho verde pendoou... Quero mostrar para essa gente o quanto vale o São João".
Esse repertório tão autêntico, que dona Maria não tira da cabeça, nasceu no Sertão do Nordeste.
E nordestinos como o tocador de pífano Lourival Neves e o seu José Raimundo podem se gabar de serem também os pais do forró. Estamos na fazenda Araripe, no berço de Luiz Gonzaga. Até hoje a fazenda é reduto do forró de raiz. É onde o pífano também vira parceiro da sanfona.
São muitos os herdeiros musicais de Luiz Gonzaga. Mas o único que é sanfoneiro e que carrega o sangue do rei do baião é o sanfoneiro Joquinha Gonzaga, sobrinho de Luiz Gonzaga. “Foi meu tio. Ele que me ensinou, me incentivou. Se não fosse ele, hoje eu não era sanfoneiro", revela.
O parentesco e a semelhança física ajudam muito, diz Joquinha. Mas, às vezes, atrapalham também. “Quem vai tocar aí? É o sobrinho de Luiz Gonzaga, Joquinha Gonzaga. Eita! Vou matar a saudade. Aí fica aquela ruma de gente na frente do palco esperando. Aí quando entro no palco, que dou uma puxada, que solto meu gogó, aí não é igual a Luiz Gonzaga, aí me lasco de novo", conta aos risos.
Exu, Pernambuco. Essa cidade guarda um importante patrimônio musical. É o que o pesquisador Leonardo Rugero, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), veio conhecer.
Há 12 anos, o professor se dedica ao estudo sobre a história da sanfona no Brasil. O museu do parque Asa Branca guarda fotos e instrumentos como a velha sanfona que Gonzaga tanto gostava.
A equipe do Globo Repórter entrou na casa do pai de Luiz Gonzaga, o seu Januário. Foi lá que ele morou até o fim da vida. É uma casa simples, mas guarda uma peça muito importante da história da música popular brasileira: uma das primeiras sanfonas do Brasil. E o mais impressionante: uma sanfona montada pelo próprio Januário.
“Isso é realmente um achado. Provavelmente ele deve ter observado cópias, juntado partes de instrumentos e construir uma linguagem única que é a sanfona de oito baixos nordestina", conta Leonardo Rugero.
Sanfona de oito baixos. Um dos símbolos do São João da roça. Até músicos experientes reconhecem que é um instrumento difícil de tocar: afinação exclusiva, teclado em forma de botão.
Mas seu Manoel, que é lavrador no município de Salgueiro, aprendeu sem ninguém ensinar, sozinho, só de ouvido. "Eu só pegava de noite, quando eu chegava em casa. Trabalhava na roça, por aí, ganhando um troquinho para ajudar meu pai. Quando era antes de eu ir para o serviço, de madrugadinha, eu pegava ela e ficava ali pelejando, ouvia o rádio, né? Até que desenvolvi um pouco", relata o lavrador Pedro Manoel da Silva.
Desenvolveu e ensinou ao filho Antonio Pedro da Silva, conhecido como ‘Antonio da Mutuca’. “Eu quebrei muito a cabeça para poder aprender a primeira música. Então, fui tomando gosto com os baixos e, hoje em dia, eu estou tocando já, fazendo festa”, fala o sanfoneiro.
E toca tão bem que o pai fica orgulhoso. E o pesquisador, admirado com o jovem sanfoneiro desconhecido.

24 de jun. de 2011

Hermeto Pascoal 75 anos - Carta aberta a Hermeto Pascoal

Hermeto Pascoal, parabéns pelos seus setenta e cinco anos! Parabéns por sua inestimável contribuição à música brasileira. São setenta e cinco anos de música. Sim, pois já chegaste músico a este planeta, tu que és, utilizando as palavras de Theo de Barros, "o mais musical dos seres". E foi essa musicalidade esplêndida que desembarcou no Brasil, vindo, quem sabe, do Planeta Vênus, pois existem místicos que acreditam que tenha sido  deste planeta que veio a arte dos sons para a Terra...mas isso não importa. O que importa é que chegaste á Lagoa do Canoa, em Arapiraca, Alagoas. Para aprender a música das bandas de pífano, dos violeiros, da sanfona de oito baixos, das ladainhas das rezas de defunto, dos reisados. Para revelar a música dos ferrinhos de seu avô que era ferreiro e de outros instrumentos não-convencionais que descobriste ainda em seus primeiros anos na terra: o cano de mamona, o talo de abóbora e as folhinhas. Para conhecer os bichos, tal como a Capivara, os sons dos sapos, dos pássaros e dos grilos. Os patos e os gansos que lembram saxofones, clarinetes e clarones. O canto do galo Aruã e olha que "tem porco na festa". Trouxe o ensinamento do "som da aura", pois, quando ainda menino, percebia música no jeito de falar das pessoas.
Muita gente, até hoje, acredita que não existe música em tudo, e esta é outra lição que trouxeste contigo, a de que "tudo é som"! Até mesmo o som dos astros e das estrelas, e o coração da terra pulsando continuamente. Até as panelas de Dona Ilza viravam música e viravam do avesso.Aliás, como dizia Itamar Assumpção, "viver é virar o avesso".
Aportaste numa familia musical, com os oito baixos do papai Pascoal, o irmão Zé Neto, também sanfoneiro arretado, mamãe Divina, enfim, uma família sonora que já trazia parte do repertório que te consagraria, tal como "O Gaio da Roseira": "O Gaio da Roseira, o gaio da roseira, o gaio da roseira, bela menina, o gaio da roseira". O menino foi crescendo, com sua oito baixos e seu pandeiro, com o irmão Zé Neto, tocando nas festas de pé-de-pau. Eram "Os meninos de Seu Pascoal".
Depois, a vida levou-lhe para outros cantos, viramundo que és, foste para Recife, onde encontrou seu irmão de som, o também albino Sivuca. Lá tornou-se acordeonista destacado, e o ambiente da rádio proporcionou-lhe o contato com amplo repertório de choros, frevos, sambas-canções, e tudo aquilo que caísse em suas mãos.
Depois veio o Rio de Janeiro, na época uma cidade efervescente, os festivais de tevê, e o Quarteto Novo, um marco na música brasileira: Hermeto, Heraldo do Monte, Theo de Barros e Airto Moreira, que colocaram a música instrumental de pernas para o ar, numa mistura inusitada de música nordestina e samba-jazz.Você já havia descoberto ( e reinventado) o piano e a flauta que ensaiavas na igreja. A cúpula era um grande delay.
Daí para o mundo foi um pulo, e, através de Flora Purim, veio o primeiro álbum gravado nos Estados Unidos. Lá, despertou o interesse de músicos como o trompetista Miles Davies, que chamava-o carinhosamente de "albino louco".
A esta altura se consolidava o "bruxo dos sons", como certa vez escreveu a jornalista Ana Maria Baiana, utilizando esta expressão para denominar a alquimia sonora de Hermeto.
Poucos músicos atravessaram tantas fronteiras sonoras com uma proposta multi-cultural, que você batizou como "música universal".
Jamais me esqueceria de um certo dia de 1987, quando eu contava dezesseis anos, e fui, com uma turma de amigos, assisti-lo no Circo Voador. Era festa de aniversário do "bruxo". Ficamos estarrecidos com tudo aquilo e resolvemos ir ao camarim para saudá-lo. Ao chegar lá, recebi de alguám um buquê de flores - até hoje não entendi o porquê disso. A pessoa que me deu o buquê disse assim: - Leve isso ao Hermeto! Segui adiante, eu e o buquê, e quando me deparei com você,  soltei, timidamente, um sussurro: - Hermeto, estas flores são para você! Em troca, recebi um abraço afetuoso e o mapa para chegar ao Jabour, naquele centro da música planetária que foi durante os anos 80 e 90 tornaram o Jabour o coração da música no Rio de Janeiro.
Hermeto, obrigado por tudo que você tem ensinado e generosamente ofertado ao mundo. Termino esta carta, utilizando uma saudação com a qual você assina muitas de suas partituras: - Tudo de bom sempre!


23 de jun. de 2011

Orquestra Sanfônica dos 8 Baixos com agenda lotada neste São João

OUTROS MUNICÍPIOS // CALENDÁRIO

Orquestra Sanfônica dos 8 Baixos com agenda lotada neste São João

Publicado no JC Online em 22.06.2011, às 16h11

Do NE10Núcleo SJCC/Caruaru
Orquestra Sanfônica dos 8 Baixos é de Santa Cruz do Capibaribe
Orquestra Sanfônica dos 8 Baixos é de Santa Cruz do Capibaribe
Foto: divulgação
O São João do Nordeste é pura alegria e oportunidade para muitos. É nessa época onde a cultura maior da região é vista por todos os ângulos. O autêntico forró pé-de-serra ganha as ruas e festejos nos mais distintos lugares.
Uma tradição centenária, a sanfona de 8 baixos, tem ganhado espaço em todos os arraiás da região. No Nordeste apenas um grupo consegue manter a tradição. É a Orquestra Sanfônica dos 8 Baixos, de Santa Cruz do Capibaribe, em pleno Agreste pernambucano.
O grupo é formado por 15 pessoas, sendo 10 sanfoneiros, quatro instrumentistas e o produtor Gil Geraldo que volta a comandar a Orquestra depois de um tempo afastado. “Voltar a Orquestra é gratificante. Gosto de trabalhar com manifestações culturais, e a Orquestra Sanfônica tem levado o nome de Santa Cruz do Capibaribe de forma muito positiva. E viajar por este estado maravilhoso conhecendo, valorizando e mostrando sua cultura é o que sempre sonhei pra minha vida”, disse o produtor.
Neste São João, a Orquestra vem se apresentando em várias cidades do Estado. Nesta quinta-feira (23), a Orquestra se apresenta em São Lourenço da Mata, sábado (25) em Santa Cruz da Baixa Verde, terça-feira (28) sobe ao palco principal de Caruaru e na quarta-feira (29) em Carnaíba. Além de todas essas apresentações, alguns músicos se apresentam individualmente em outras 

Noite de São João

Viva São João! Viva! Hoje é uma data importante no calendário anual da sanfona, dos oito aos cento e vinte baixos. Muitos arraiás por este Brasil afora rememoram esta tradição, que a cada ano se renova e reinventa. Porém, sem perder a essência desta festa: a noite fria e estrelada, os balões - ainda que imaginários, o crepitar da lenha na fogueira e a quadrilha animada. O quentão, a canjica, o arroz doce, a cocada. O terreiro animado e a promessa de mais um ano vindouro...

20 de jun. de 2011

Dissertação de Mestrado

Olá amigos,

nesta terça-feira, dia 21, às 10h30, na Escola de Música da UFRJ, estarei apresentando a defesa de dissertação de mestrado "Com respeito aos oito baixos - um estudo etnomusicológico do estilo nordestino da sanfona de oito baixos". A Escola de Música fica na Rua do Passeio, 98, perto dos Arcos da Lapa.

Zé Calixto no Parque do Povo

Para quem estiver em Campina Grande, hoje, no Parque do Povo, show de Zé Calixto!

FARIA DOS OITO BAIXOS


Enviado por drimeneg em 20/06/2011
"Músico de rua", o senhor "Faria dos Oito Baixos" toca sua sanfona ora na Feira Hippie de Ipanema na praça General Osório, ora na Feira Nordestina do Campo de São Cristóvão. Ele é um charme ! Nascido no município Alto Jequitibá ( Zona da Mata Mineira ) reside hoje em Nova Iguaçú - RJ. ( contatos direto com o artista 21-26636122 ).

Há algum tempo atrás, meu amigo, o acordeonista Guilherme Maravilhas presenteou-me com um disco deste sanfoneiro. Contou-me que havia se deparado com ele em Laranjeiras, onde costumava tocar. Desde então, não tive mais notícias a seu respeito. Eis que hoje, graças ao Youtube, ressurge o Faria dos Oito Baixos, lendário músico de rua do Rio de Janeiro.

18 de jun. de 2011

Dissertação de Mestrado

Olá amigos,

antes de tudo, quero agradecer à audiência deste site, que cresce a cada semana. Fico muito feliz em perceber o sensível aumento de visibilidade da sanfona brasileira no panorama musical. Isso reitera nossa convicção de que estamos caminhando no rumo certo.
Período de muito trabalho, prometo, em breve, retomar as postagens diárias, trazendo muitas novidades para vocês.
A novidade mais recente é a conclusão de minha dissertação de mestrado, intitulada "Com respeito aos oito baixos - Um estudo etnomusicolôgico do estilo nordestino da sanfona de oito baixos". A defesa da dissertação será na terça-feira, dia 21 de junho, às 10h30m, no Laboratório de Etnomusicologia da Escola de Música da UFRJ. Aos amigos que residem no Rio, ou que estejam de passagem por esta cidade, fica o meu convite.

14 de jun. de 2011

Luiz Gonzaga tocando sanfona de oito baixos


Em passagem pelo Museu de Gonzagão, em Exu, Pernambuco, me deparei com esta fotografia, extraída de um filme da década de 1950. Uma rara apresentação de Luiz Gonzaga com aquele que foi seu primeiro instrumento, a sanfona de oito baixos. 

12 de jun. de 2011

J. SOBRINHO - BAIO DO ACORDEON E O SEU GRANDE SHOW EM 8 BAIXOS - 13.05.2...

Video postado por J. Sobrinho "Baio do acordeon dando um grande show de 8 baixos no lançamento do São João de Santa Bárbara - Bahia - 13 de Maio de 2011". Embora a imagem esteja distante, o áudio é suficiente para apreciar o talento deste sanfoneiro.


Landinho Pé de Bode

Sons de Canudos circula pelo sertão e litoral norte
Publicado em - 20/05/11 às 09:54:00





O projeto Sons de Canudos - Circulação, contemplado pelo edital de circulação
musical Vivaldo Ladislau, da Fundação Cultural do Estado da Bahia e com recurso do
Fundo de Cultura do Estado da Bahia, vai percorrer na penúltima semana de maio,
 os municípios do sertão baiano Monte Santo (23/24),Jacobina (25/26) e Conde (27/28).
 As apresentações musicais serão em locais públicos e gratuitas,
 reunindo os artistas da música tradicional da histórica Canudos Velho.
Landinho Pé de Bode,


o último de uma geração de tocadores da sanfona de oito baixos do município.
A Banda de Pífanos de Bendegó, com suas caixas artesanais, zabumba e
flauta e a Zabumba de Canudos Velho, formada por cinco jovens irmãos que
dão continuidade à memória das tradições locais.
Além das apresentações musicais em feiras municipais e coretos, serão realizadas
aulas espetáculos nas escolas públicas de cada município. No ano de 2010 o
projeto Sons de Canudos recebeu o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade,
do IPHAN/MinC, na categoria Salvaguarda de Bens de Natureza 
Imaterial.
Programação: 
Município de Monte Santo
23/05/11 – Manhã - Aula espetáculo: Escola Municipal José Andrade (Pedra Vermelha);
A partir das 17hs – Apresentações Musicais no Coreto Municipal; 24/05/11 – 
Manhã – Aula espetáculo: Instituto de Educação Monte Santo
Município de Jacobina
25/05/11 – Tarde – Aula espetáculo no Centro Educacional Deocleciano B. de Castro - Jacobina; 
26/05/11 – Manhã – Apresentações musicais na Feira Municipal – Centro
Município de Conde
27/05/11 – Manhã – Aula espetáculo: Escola Helena de Castro Baptista - Conde; Tarde – 
Aula espetáculo: Escola Hermógenes Gomes do Nascimento - Sítio do Conde; 28/05/11 –
Apresentações musicais na Feira Municipal – Centro

Mais informações: 
www.sonsdecanudos.blogspot.com
Contatos:
Odilon Sérgio 71 8782-4538/ Marcelo Rabelo 71 9194-0206
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