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26 de jan. de 2010

Zé Alves - O rei do calango




Embora a sanfona de 8 baixos seja muito utilizada no calango, raros sanfoneiros de 8 baixos relacionados à esta expressão musical, registraram seus trabalhos em disco. Mesmo a etnografia relacionada ao gênero, tem deixado poucos registros. Ao longo do tempo, tenho conhecido alguns sanfoneiros enraizados no calango. O saudoso João Torquato foi um ás, Carmindo, é outro. No entanto, os únicos registros destes sanfoneiros, por exemplo, são algumas gravações de minhas pesquisas de campo, que aos poucos, eu tenho disponibilizado no Youtube. Esta ausência discográfica de calangos e calangueiros é fruto de uma série de fatores. Primeiramente, esta expressão musical se mantém entre as “tradições orais que se transmitem em circuitos independentes do mercado” (Travassos, 2002:75). Em segundo lugar, é difícil apreender o calango em uma gravação. Como bem explica Rosa Maria Zamith, " a palavra calango não designa somente 'gênero musical' como ainda 'baile rural', 'forma poética', 'dança' e 'canto de trabalho' para amenizar atividades rurais como capinar e roçar"(Zamith, 1987). Eu acrescentaria, passado duas décadas, que o calango ameniza as atividades profissionais da periferia urbana, onde também (sobre)vive, ainda que discretamente. A sanfona de 8 baixos do calango está diretamente relacionada aos elementos enumerados por Zamith. Nos ponteados em terças, sextas, carregados de malícia, se espelham a antiga dança , que, para alguns, evoca alguém que estivesse "juntando café no terreiro". Na melopéia dos cantadores, segundo as linhas (rimas) e leras (versos). Um calango 'acontece', não há programa fixo, tudo depende do momento, de quem esteja participando, desde os calangueiros aos ouvintes.



Zé Alves - O rei do Calango, é um disco lançado em 1983 pelo extinto selo Unacam, e se distingue, por ser uma tentativa de comercialização de um solista de 8 baixos voltado para essa modalidade. Provavelmente, Zé Alves é natural de Minas Gerais, já que existem diversas referências à Minas nos títulos das músicas, como "De Minas à Maceió", "Calango mineiro", Calango na BH". Seu estilo é envolvente, apresentando domínio completo do instrumento neste gênero musical. Além dos calangos propriamente ditos, também há um xote, uma valsa e uma rancheira, gêneros que muitas vezes se misturam ao repertório dos calangueiros tradicionais. A julgar pela fotografia da capa e pela sonoridade da gravação, Zé Alvez utilizou uma Todeschini em afinação natural no registro de mi bemol/lá bemol. Há o predominio do ponto liso, isto é, utilização da tonalidade da carreira externa - Mi bemol. Não há uso de tonalidade menor. O predominio do modo maior so é quebrado na faixa "De Minas à Maceió", onde uma sétima abaixada caracteristicamente nordestina dá o "tempero" diferenciado à composição, justificando o nome da capital de Alagoas ao título.
Mesmo nos momentos em que Zé Alves apoia-se na tradição oral, o realiza de maneira própria, adaptando as frases com criatividade e iventividade. Destacaria a faixa "Calango Mineiro", que demonstra todo o seu virtuosismo. O acompanhamento traz dois violões - um nas "baixarias", e outro, atuando de forma contrapontística ou ritmica, um cavaquinho e percussões - reco-reco, afoxé, triângulo e zabumba. A ficha técnica omite o nome dos percussionistas. O único músico do qual tenho alguma referência é o cavaquinista Pedrinho, que gravou alguns discos nos anos 80. Quem puder, por favor, me dê alguma pista quanto aos músicos participantes desta gravação, sobretudo o solista Zé Alves, do qual não tenho informação biográfica alguma.E ficam as perguntas: - Onde vive Zé Alves? Gravou algum outro disco? Ainda está em atividade profissional"?
Boa audição!
fontes bibliográficas:
Travassos, Elizabeth.Esboço de balanço da etnomusicologia no Brasil. Opus 9. ANPOM, dezembro, 2003.
Zamith, Rosa Maria. Calango - RJ. Documentário Sonoro do folclore brasileiro 44. Rio de Janeiro:Funarte, 1987.
Zé Alves - O rei do calango
Unacam
1983
Zé Alves - sanfona de 8 baixos
Tupy e Vicente - violões
Pedrinho - cavaquinho
Pirulito - baixo
Lado A
01 - Dançando no terreiro ( Zé Alves - Pitangui)
02 - De Minas à Maceió (Zé Alves - Antônio Ramos)
03 - A valsinha do vovô (Zé Alves - Pitangui)
04 - Calango mineiro (Zé Alves - Pitangui)
05 - Brincando com a 8 baixos ( Zé Alves - Pitangui)
06 - Pisando miúdo (Zé Alves e Pitangui)
Lado B
07 - Calango de Santa Bárbara (Zé Alves e itangui)
08 - Xote do Tetéo (Lico)
09 - Calango na BH (Zé Alves - Pitangui)
10 - Calango em Monte Verde ( Zé Alves - Pitangui)
11 - Calango manhoso ( Zé Alves - Pitangui)
12 - Descendo a serra (Zé Alves - Pitangui)

25 de jan. de 2010

Geraldo Correia


Entrevista de Geraldo Correia para o programa Diversidade.

21 de jan. de 2010

berganha


Terça - feira passada, dia 19 de janeiro, fui, com os amigos Carmindo e Mineiro, à casa de Nelsinho, calangueiro afiado no verso, em Moura Brasil, distrito do município de Três Rios. Entre os objetivos da visita, trocar dois dedos de prosa, tocar um bocadinho e berganhar.
Mineiro e Nelsinho são berganhistas natos, e é interessante acompanhar este processo de troca de instrumentos, onde se berganham ( ou barganham) objetos por outros, e a negociação depende da esperteza e raciocínio para levar vantagem no negócio. Aquele que é derrubado na negociação, "leva uma manta", como se diz na expressão nativa.

Também foi muito agradável ouvir a envolvente interpretação de Carmindo na sanfona de 8 baixos. Calangos, xotes e mazurcas, essência do estilo mineiro, com fole puxado (galeio), e uma sonoridade "cheia", recheada de acordes e notas duplas. Nelsinho, com sua verve, destilou versos, documentando em tempo real nossa visita, criando uma narrativa cotidiana. Carmindo participa ativamente da berganha, não quanto à negociação, mas como uma espécie de experimentador das sanfonas, testando e verificando a qualidade das mesmas.

Bela tarde que ficará em nossas memórias. Querem saber como foi a barganha? Só pagando pra ver...

11 de jan. de 2010

Camarão em 8 baixos




Embora Camarão seja reconhecido como um dos maiores mestres do acordeom de 120 baixos, tendo recebido, inclusive a honraria de Patrimônio vivo de Pernambuco, devido à quantidade ( e qualidade) de serviços prestados à música deste estado, é bem verdade que deu o pontapé inicial de sua carreira discográfica, através da sanfona de 8 baixos.



Corria o ano de 1964, e com o impacto causado pelas gravações de Abdias e Zé Calixto no Rio de Janeiro, o selo Mocambo, sediado em Recife, também investiu na produção de discos de sanfona de oito naixos. Reginaldo Alves Ferreira, que já era conhecido como Camarão e já havia adotado o acordeom de 120 baixos como principal instrumento, foi um destes músicos.
 Segundo nos conta o próprio Camarão, ele adquiriu uma sanfona de 8 baixos em afinação natural duas semanas antes das gravações, e preparou o repertório, compondo músicas especialmente para o disco. A gravação ocorreu ao vivo, segundo ele mesmo conta, "num sistema precário", com apenas um microfone condensador captando o conjunto. No entanto, o resultado esplêndido desta empreitada, deu luz ao disco " Lá vai brasa". É interessante notar que, à parte das caracteristicas de afinação natural, a sanfona de Camarão soa no estilo nordestino da afinação transportada.
No site Forró em Vinil, há uma pequena matéria sobre este disco.

Forró do ano novo







Dia primeiro de Janeiro, aconteceu o tradicional "forró de ano novo", promovido por Zé Calixto e familia, e realizado no quintal da casa do mestre da sanfona de 8 baixos, no bairro da Pavuna - Rio de Janeiro. O evento, que está em sua décima quinta edição, já faz parte do calendário do forró carioca. Um palco improvisado, algumas cadeiras, muitas pessoas em pé, cerveja e churrasquinho, vizinhos e amigos, música contagiante e o espírito de confraternização. "Tá feito o forró", que este ano teve a participação de diversos músicos, entre os quais, Luizinho Calixto e Truvinca dos 8 baixos, marcando um início de 2010 alvissareiro, com os votos de saúde, paz e muita música.